Os Corvos de Pearblossom, de Aldous Huxley

Era uma vez um casal de corvos que tinha um ninho num choupo, em Pearblossom.
Num Buraco, ao pé da árvore, morava uma cobra cascavel. Ela era muito idosa, muito grande, e quando balançava seus guizos o barulho era tão alto que podia ser escutado pelas crianças da escola, em Littlerock.
Aldous Huxley, Os Corvos de Pearblossom, pág. 4

Poucos leitores nunca ouviram falar sobre Aldous Huxley. Se não o conhecem pelo nome, pelo menos já ouviram sobre sua obra mais icônica, Admirável Mundo Novo (Globo Livros), seja pela leitura direta do livro, ou pelo filme adaptado, ou ainda pelas inúmeras referências em músicas, livros, séries, etc. Bom, o fato é que Huxley possui uma obra vasta, seja como romancista, ensaísta, poeta, crítico e até mesmo roteirista. No entanto, poucos sabem que ele também escreveu uma historinha infantil, intitulada Os Corvos de Pearblossom, lançada aqui no Brasil em 2006 pela editora Record.

Os Corvos de Pearblossom foi escrito para Olivia de Haulleville, sobrinha do autor. Olivia passava muito tempo com Huxley e sua esposa, Maria, em Llano, na Califórnia. O casal gostava de contar histórias para sua sobrinha, até que a família de Olivia se mudou para Pearblossom, onde Huxley e sua esposa começaram a passar o Natal. E foi numa dessas visitas, mais precisamente no Natal de 1944 que Huxley presentou sua sobrinha com essa historinha. Tempos depois Olivia enviou o manuscrito de volta para seu tio, pedindo que ele o ilustrasse, o que nunca chegou a acontecer. Um incêndio na casa de Huxley destruiu o manuscrito impedindo que o mesmo retornasse à sua dona.

Os Corvos de Pearblossom (outras edições)
Os Corvos de Pearblossom (Ilustrado por Barbara Cooney, Sophie Blackall e Agata Dudek, respectivamente)

A publicação do mesmo só foi possível graças aos vizinhos de Olivia, o sr. e sra. Yost, que guardavam uma cópia. Isso porque os mesmos eram citados na historinha, além do irmão de Olivia, Siggy. O livro só foi publicado postumamente em 1967, quatro anos depois da morte do autor, pela editora Random House com ilustrações da escritora e ilustradora Barbara Cooney. Depois, outras edições foram surgindo com a assinatura de outros ilustradores, Beatrice Alemagna, Sophie Blackall e Agata Dudek são alguns nomes. Algumas edições inclusive ganharam prêmios de melhor design.

Os Corvos de Pearblossom (Ilustração de Sophie Blackall 2)
Os Corvos de Pearblossom (Ilustração de Sophie Blackall)

O livro conta a história de um casal de corvos, Amélia e Abraham, que têm seus ovos devorados diariamente por uma serpente gulosa. Bem, não exatamente todo dia, já que a sra. Corvo não põe ovos aos domingos e feriados, mas sempre que o faz a serpente vai lá e come. São duzentos e noventa e sete (297) ovos por ano, todos devorados. A sra. Corvo está muito triste por não ter nenhum filhote. O sumiço dos ovos é um mistério para o casal, até que a sra. Corvo quebra sua rotina e chega em casa mais cedo um dia, é então que ela descobre que a serpente vem comendo seus ovos como café-da-manhã. A serpente por sua vez, pouco se importava com os ovos (e futuros filhotes) da sra. Corvo e continuava comendo e cantando:

Eu não posso voar – não tenho asas;
Eu não posso correr – não tenho pernas;
Mas posso rastejar até onde o pássaro negro canta
E comer seus ovos pintados, rá, rá,
E comer seus ovos pintados. (pág. 21)

Sem saber o que fazer, o sr. Corvo vai atrás do sábio sr. Coruja. Depois de conversarem eles bolam um plano para salvar os ovos. Juntos, além de impedir que a cobra continue comendo os ovos da sra. Corvo, eles ensinam uma lição para a serpente. O livro possui um ar de fábula, ao utilizar os animais para fazer analogias às ações dos humanos na sociedade. Dado esse teor reflexivo, a obra pode ser amplamente utilizada no ambiente escolar por diferentes faixas etárias, visto que incita discussões sobre temas variados.

Os Corvos de Pearblossom (Ilustração de Sophie Blackall)
Os Corvos de Pearblossom (Ilustração de Sophie Blackall)

A trama funciona de forma a mostrar para a criança a importância do trabalho em equipe, através do plano executado entre a coruja e o corvo. Assim como, mostra a importância do respeito ao espaço alheio. Como ponto negativo, devo mencionar a forma com que o sr. Corvo trata sua esposa, que pode ser interpretada como grosseira. Ao final das 28 páginas fica uma sensação agradável, que nos remete àquelas historinhas que ouvíamos quando criança, um sabor clássico para um livrinho rápido e divertido.

Para quem gosta de livros infantis, repleto de ilustrações, e/ou para quem tem filhos, eis aqui um boa história para ser contada, ou para ler junto.

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Outras Obras do Autor:

  • Admirável Mundo Novo (Biblioteca Azul)
  • Os Demônios de Loudun (Biblioteca Azul)
  • Contraponto (Biblioteca Azul)
  • Contos Escolhidos (Biblioteca Azul)
  • A Ilha (Biblioteca Azul)
  • A Situação Humana (Biblioteca Azul)
  • O Gênio e a Deusa (Biblioteca Azul)
  • O Macaco e a Essência (Biblioteca Azul)
  • Folhas Inúteis (Biblioteca Azul)
  • Sem Olhos em Gaza (Biblioteca Azul)
  • As Portas da Percepção/Céu e Inferno (Biblioteca Azul)

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Ficha Técnica

Título: Os Corvos de Pearblossom
Título original: The Crows of Pearblossom
Autor(a): Aldous Huxley
Ilustrações: Beatrice Alemagna
Tradução: Luiz Antonio Aguiar
Editora: Record
Edição: 2006 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 1944
Páginas: 28
Sinopse: Ilustrado com beleza e modernidade pela artista plástica italiana Beatrice Alemagna, este conto tem sabor de um clássico. Temperado com uma pitada de humor mordaz, conta a história de um simpático casal de corvos, Amélia e Abraham, às voltas com o sumiço de seus ovos. O mistério é logo esclarecido pela descoberta da toca de uma serpente nas raízes da árvore que serve de moradia para o sr. e sra. Corvo. Eles contam com a ajuda do Sr. Coruja. Mas será que conseguirão salvar os ovos?

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