Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, 2009)

Acaba de chegar aos cinemas brasileiros mais uma obra cinematográfica assinada por Peter Jackson (o conhecidíssimo diretor da trilogia O Senhor dos Anéis), que ano passado produziu e apadrinhou o filme do novato Neill Blomkamp, diretor e co-autor do concorrente ao Oscar, Distrito 9. Dessa vez temos um filme singular e típico de Jackson, Um Olhar do Paraíso, que por sua vez narra a vida, ou melhor, a morte da menina Susie Salmon, interpretada por Saoirse Ronan. O roteiro é assinado por Fran Walsh, Philippa Boyens e Peter Jackson, porém é baseado no livro best-seller lançado em 2002, de Alice Sebold, que no Brasil recebeu o título de Uma Vida Interrompida.

Susie Salmon é uma garota de 14 anos que acaba de entrar na adolescência e se depara com dilemas típicos dessa fase da vida, entre eles o do primeiro namorado. Isso resultaria em um roteiro clichê, não fosse o fato dela ser estuprada e assassinada por um vizinho, George Harvey (Stanley Tucci) que na verdade é um serial killer, que se delicia abusando e matando garotinhas. A história é narrada pela própria Susie logo sua morte, conferindo ao filme uma estética idêntica à utilizada por Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas.

O filme não tem uma mensagem muito nítida, nem uma justificativa plausível. Mas é uma boa história de suspense reverso, onde a tristeza e a alegria se mesclam formando um composto emocional complexo em quem o assiste. Falar de estupro usando mídias populares pode ser algo polêmico quando não se define bem aonde se quer chegar. O caso de Susie Salmon dá a impressão de que o autor quer que se compactue com essa violência. Mudanças nas leis que regem esse assunto aqui no Brasil, têm trazido à tona discussões importantes sobre o mesmo. O filme é mais um impulsionador.

Após sua morte, Susie fica numa espécie de purgatório ou limbo, um limiar entre o céu e a Terra. Durante um ano ela narra sua história e tenta ajudar seus pais a encontrarem seu assassino, para que assim obtenha sua vingança e possa ir tranquilamente para o céu. Nesse ínterim ela encontra-se com outras vítimas do seu assassino, que demonstram já terem superado o que lhes aconteceu. São as cenas desse limiar que mais chamam a atenção, efeitos especiais e visuais deslumbrantes, de um colorido muito alegre que se aproxima do exagero e uma fotografia impecável de Andrew Lesnie. Os personagens são cativantes, como a sensitiva Ruth Connor (Carolyn Dando) e os pais de Susie, Jack (Mark Wahlberg) e Abigail (Rachel Weisz).

Como dito antes, o filme é um composto de cenas que se interpõem, intercalando realidade e fantasia, Terra e céu, alegria e tristeza, e outras antíteses. Apesar do caráter emocionalmente depressivo, o filme é até bem alegre. E mesmo que o autor tente mostrar que a vida continua para os sobreviventes e de que a vida se encarrega da vingança, como é mostrado no filme, há muito que se discutir sobre este assunto. Uns amando, outros odiando; uns contra, outros a favor. Talvez seja essa a verdadeira intenção de Peter Jackson: levantar discussões!

Trailer:

10 comentários

  1. O filme é realmente intrigante e envolvente. Me incomodou um pouco o fato das coisas ficarem por dizer, mas isso, por outro lado, me faz pensar nas várias faces da vida.

    De um modo geral ele me comoveu, não chegou a me emocionar, mas me fez pensar muito.

    P.S.: A resenha está muito bem escrita. Como sempre você está de parabéns.

    Abraços

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    • Olá Mailson,
      É bom ver vc estreando um comentário aqui nesse blog que vc ler a tanto tempo.
      Sim o filme é intrigante, essa das coisas ficarem por dizer talvez seja bom, faz as pessoas pensarem!
      Como eu assisti o filme ao seu lado (quase, tinha duas pessoas entre a gente, rsrs) notei suas reações diante do filme, há momentos em que é impossível respirar!

      Obrigado pelos elogios.
      Abraços!

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  2. Graças a um amigão que tem um blog sobre cinema, resolvi assistir a esse filme. Peter Jackson, pra mim, não é apenas Senhor dos Anéis, nem Fome Animal (melhor esquecer esse… hehehe). Ele também é diretor do sensível Almas Gêmeas, primeiro filme da Kate Winslet.

    The Lovely Bones é mesmo um belo filme. Valeu a pena assistí-lo e, embora a crítica não esteja o vendo com bons olhos, pra mim, foi um dos melhores do ano – até agora.

    Adorei seu blog! Também tenho um. Passa lá.

    Abração!

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    • Olá Marcelo
      Bem se sabe que Peter Jackson sempre é citado como “o mesmo diretor de O Senhor do Anéis”, mas como vc ressaltou ele não é apenas isso. Esse filme é um exemplo disso, acho que os pontos negativos, na minha opinião foram os que citei no texto acima, a falta de partido por parte dele, mas também acho que ele merecia um Oscar por esse filme, sim!

      Ainda não vi “Fome Animal” e “Almas Gêmeas”, mas tentarei ver, obrigado pela dica.

      Obrigado pelo comentário!
      Abraço

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  3. Acho que tudo o que homossexuais NÃO precisam é da construção negativa que Peter Jackson faz deles em Almas Gêmeas. Quanto a Um Olhar do Paraíso… É um filme trágico. Não o roteiro. O filme é trágico em todos os sentidos. Roteiro confuso que não decide qual rumo quer tomar: se o do suspense, se o do drama, se o da fantasia. Porque embora transite entre os três, o faz muito mal. Ideologicamente, é um filme ultrajante. Como Roger Ebert bem falou, basicamente, passa a mensagem de que se você é uma garota de 14 anos e é estuprada e assassinada você tem mesmo é que se conformar porque todas as vítimas do seu algoz estão te esperando no paraíso. Mensagem de otimismo e superação diante das “pancadas” da vida? Por favor. Quer se emocionar e ver um filme com esta mensagem? Vá ver o ótimo Uma História Real, de David Lynch. Ele sim consegue fazer isso a contento e sem passar mensagens conformistas diante de atos violentos. Ouvi de alguém que viu Um Olhar do Paraíso que “a justiça tarda, mas não falha”. E eu pergunto: que justiça? Só for uma espécie de autosatisfação pro espectador do filme. Porque eu não vejo justiça nenhuma no fato de um cara idoso despencar de um penhasco. Ele viveu o que tinha de viver. Fez as vítimas que quis em vida. O que acontecerá a ele após a morte é meramente idiossincrático. Aliás, idiossincrasia dos roteiristas e do diretor que EU e mais um monte de gente não somos obrigados a partilhar. Um filme tolo, fútil, melodramático e idiossincrático. Nada contra filmes idiossincráticos, mas eles nunca agradarão a gregos e troianos. Ainda mais quando é, declaradamente, uma afronta às mulheres e a quem tem um mínimo de desejo de justiça e não é conformista.

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    • Cassinha,

      Almas Gêmeas? bom depois do comentário do Guh e do seu, tenho mesmo que ver esse filme, tbm quero alfinetar, rsrs!

      Sobre esse em questão aqui no blog, não vou me repetir pq minha opinião já consta no texto, mas o filme realmente é trágico e confuso, e pode ser interpretado com um imagem negativa do assunto!

      David Lynch, acho que isso pra mim não é mais dica, depois do primeiro filme que vi dele (Absurda) virei fã logo de cara, o cara é demais! Meu favorito!

      Obrigado mais uma vez, por essa forte opinião que vc colocou aqui, contribui demais com o blog!

      Abraços

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  4. Querida Cassia parece que nem assistisse o filme. Acho que a resenha do filme está muito boa, acho que ao contrario do que disse a Cassia depois de assisti-lo fica um sentimento profundo de tristeza e de revolta por aquela linda menina que tinha uma vida pela frente e estava iniciando a vida com aquele olhar puro sobre o mundo se ve colhida por um doente que não tem o minimo respeito pela vida humana. O filme toca muito.

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    • Olá Gabriel,
      Obrigado pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado da resenha. Eu acho o filme bem dramático (tocante) também.
      Quanto a sua opinião contrária à da Cássia acho melhor ela mesma responder.
      Abraços!

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    • Ué, mas em nenhum momento em entrei no mérito da resenha em si. Falei sobre o filme. E, sim, eu o vi, antes até de estrear nos cinemas brasileiros. Tua interpretação também é possível. Cada um vê aquilo que lhe é possível quando consome um produto cultural. Eu vejo um belo de um filme machista. E, aliás, não sou apenas eu que vejo isso (pra não dizerem que tô vendo pelo em ovo). Basta dar uma pesquisada em resenhas de outras pessoas que viram o filme.

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  5. Estética igual a de Machado de Assis? Certo. Igual também a estética de Cassia Tamyris Sousa no Orkut em 2009 falando sobre jazz

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