Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010)

Para quem estava ansioso pela estréia de Alice no País das Maravilhas aqui no Brasil, ontem foi o grande dia. A espera era por um Jhonny Depp mais que excêntrico. Uma direção inovadora de Tim Burton. Uma Helena Bonhan Carter se superando, e uma Alice que fizesse jus ao seu papel. O que tivemos no fim das contas foi um misto disso tudo, que acabou batendo recordes de bilheteria logo na estréia. Mas o fato mais importante de tudo foi o encontro entre Tim Burton e Lewis Caroll, ambos distantes no tempo, mas próximos na habilidade de encantar. Um chegando a ser o equivalente ao outro nas obras que desenvolveram, o primeiro no cinema e outro na literatura.

A propaganda feita em torno do filme foi tão grande que sua estréia chegou a ser adiada, por que especularam que o público deveria ser maior e que deveria abranger todo o território ao mesmo tempo. O problema disso tudo é que os brasileiros insistem em achar que coisas coloridas demais é pra criança, com isso algumas cidades tiveram a infelicidade de receber apenas o filme dublado, desvalorizando o desempenho de excelentes atores que estavam por trás da voz de alguns animais fantásticos.

Não digo que Alice seja uma adaptação, mas uma tradução (sempre não literal) do livro para filme. Aqui temos uma Alice diferente, vivendo uma história diferente, em um momento diferente daquele presente no livro. Ou melhor, livros, porque esse filme é baseado nos dois livros de Caroll, Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho e o que Ela Encontrou por Lá. Aqui a protagonista está com 19 anos e retorna ao país fantástico do submundo. Lá ela tem que fazer as coisas voltarem ao normal, e restituir o poder da Rainha Branca, “coreografada” por Anna Hathaway, a bela . Mas a história não começa aqui, voltemos ao princípio.

A Alice de Tim Burton está prestes a se casar, ou melhor, de ficar noiva com um burguês tipicamente nojento. Antes disso o que vemos são cenas da menina ainda criança com seu pai, onde ela aprende que as pessoas loucas são as mais legais, e porque não dizer, melhores, e de fato é. No dia do noivado, Alice se ver diante do impasse entre fazer o que deseja e o que a sociedade quer. Nessa hora o Coelho Branco aparece sinalizando um atraso e Alice ao persegui-lo cai no buraco. Quando tudo parece ser novidade para a garota, os habitantes fantásticos acham que se trata da Alice errada, mas isso logo é resolvido.

Quem acha que Tim Burton é ingênuo, se engana plenamente. O diretor que é capaz de dar vida ao impossível, cria também situações tensas, irônicas e subtendidas, e quem quiser que se desdobre para descobri. Outro ponto positivo desse filme é essa de ele ser um pouco idiossincrático, permitindo diversas interpretações. Na obra original, a garotinha era ninguém menos que Alice Liddell, a paixão do autor. Lewis foi acusado de interesse sexual pela garotinha. A história no país maravilhoso foi feita para ela e suas irmãs (Lorina e Edith). As interpretações mais criativas dizem que o fato de Alice ficar encolhendo e espichando, é o desejo do autor de que a menina crescesse, seguido da frustração de isso não acontecer, e então, um cair na realidade. Aproveitando isso, Burton, trás aqui uma atriz de rosto enigmático, a bela australiana Mia Wasikowska, usando roupas sensuais, numa espécie de linha tênue entre a infantilidade e seu amadurecimento.

Os elementos de maior peso do filme, trabalham em conjunto, cada um respeitando o espaço e papel do outro. Quem achava que o Chapeleiro Maluco ia ser uma espécie de herói, se contentou vendo ele aparecer apenas quando era devido, deixando o heroísmo para a garota título. A parte mais cômica, sempre presente no desenrolar das cenas, ficou por conta da Rainha Vermelha e sua obsessão por coisas grandes, especialmente, partes do corpo, ou ainda por sua constante frase: “Cortem-lhe a cabeça!”.

Há que se ressaltar que há algumas diferenças entre o livro e o filme. O Chapeleiro que no livro aparece como figura doce e assexuada, no filme desponta como um enigmático, excêntrico e apaixonado, que tenta conquistar Alice com seus olhares. Talvez para Tim Burton, ele seja o alter ego do autor. Já a Rainha Vermelha interpretada por Helena Bonhan Carter (mulher do diretor, que foi tachada por “velha demais” para fazer Alice, seu papel de desejo), resultou da fusão de duas personagens do livro – a Rainha de Copas e a Rainha Vermelha. Como Valete de Copas temos Crispin Glover, que interpretou o personagem satirizando Willy Wonka em Deu a Louca em Hollywood.

O diretor mostra seu profissionalismo e originalidade ao transmutar em imagens as coisas criadas por Lewis, desde conceito até as palavras inventadas pelo próprio escritor. Entre elas, o terrível “jabberwocky” e a dança maluca (fudderwipping), esta última tão bem materializada por Burton, através de Jhonny Depp, incorrigível. Algo muito interessante também é a referência a Edgar Allan Poe (de quem o diretor é fã), utilizando do sombrio para complementar o fantástico. Atente nesse ponto, para o gato risonho com a habilidade de evaporar, que é de dá arrepios e levantar de suspeitas.

Ainda há muitos nomes a mencionar, como da roteirista Linda Woolverton, que ver esse filme como uma continuação daquela historinha que (só) parece infantil, escrita por Caroll. Quem acha que os atores bons são só aqueles que aparecem em pessoa (mesmo cobertos de maquiagem) se engana, por trás das vozes dos bichinhos temos um elenco de ponta: Matt Lucas, Alan Rickman, Timothy Spall, Michael Sheen, Christopher Lee e Stephen Fry.

Somos presenteados também com um fotografia e uma direção de arte melhor ainda. A trilha sonora, de Danny Elfman, também ajuda a deixar o filme mais pop, agradando a muitos (e desagradando outros), entre os artistas que sonorizam o filme estão Avril Lavigne, 3OH!3, Franz Ferdinand, Metro Station, Tokio Hotel, entre outros.

Este é mais um filme grandioso, colorido demais, como foi (e é) Avatar, mas com um diferencial. O primeiro é que este desbancou o anterior logo no primeiro dia. E outra que o tema abordado aqui é social e não ecológico, permitindo uma maior identificação. Alice tem que ir contra o que já está escrito no Oráculo, para agir por suas próprias escolhas e produzir um efeito tão esperado quanto o anterior já premeditado.

No fim mais uma vez temos a receita de Burton: uma pitada de sombrio, sempre característico do diretor; uma porção de Jhonny Depp, seu favoritinho; uma dose de Helena, sua esposa; um punhado de humor e ironia; meia lição de moral, ensinada nitidamente por Alice ao final; Resultando assim num filme maravilhoso, saído do forno (ou estúdio), a mais nova obra de referência, e não por acaso, Alice no País de Tim Burton.

10 comentários

  1. De modo geral eu gostei, mas achei a estória em si muito simples, principalmente por se tratar de Alice…

    Mas é um bom filme sim, saí satisfeito, apesar dessa ‘decepção” pelo roteiro.

    Abraços

    Filipe Ferraz/CineMMaster

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  2. O que se esperar de um filme grandioso, 3D e tão bizarro quanto pode-se imaginar em uma fusão ainda mais bizarra de Lewis Caroll e Tim Burton?
    Foi com essa duvida e expectativa que assisti “Alice in Wonderland” ontem mesmo…
    O filme é realmente uma grande produção, cujas vantagens são as mesmas desde que imagens do longa foram divulgadas meses atrás na Internet: FOTOGRAFIA.
    O problema é justamente esse: as fotos deram mais empolgaçao que as imagens…
    O filme é belo, realmente adorável em quesito de figurinos, cenários e maquiagens. Porem o roteiro peca inevitavelmente na narrativa, fazendo com que essa suposta continuação do clássico ainda não atinja a qualidade implacável da obra original e faz com que todos os efeitos pra lá de inovadores de imagem cenografica sejam a única grande arma do filme.
    A opção pelo 3D estereotipo também não foi lá 100% feliz. É claro que o filme se encaixou perfeitamente nesse quesito, mas será mesmo que alguém ainda aguenta objetos lançados na platéia de forma irreal e grotesca? Com a exceção do gato, não espere uma profundidade realista como o citado “Avatar”

    Bem, apesar de ocupado, não resisti e dei uma passada aqui no Cool, que está cada vez melhor graças ao seu incrível senso critico amigo!

    Grandes Abraços

    Gustavo Randazzo

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  3. Adorei a resenha sobre essa super produção. Ainda não assisti, mas depois do que eu li aqui vou correr pra um cinema. Adoro esse tipo de filme, me encanta, faz-me viajar. Parabéns pelo blog.

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  4. Alice…Alice…
    É uma pena as coisas já não serem as mesmas. Tudo muda…as lembranças, nem essas são como costumavam ser.
    – Eles esperam muito de mim!
    Sim, minha querida. Você é nossa artista, nossa heroína! Nossa menina sonhadora. É uma pena que o sonho esteja tão conturbado. Aqueles rostos não são os que eu desejava ver.
    – O que devo fazer? Encolher mais ainda?!
    Não, não. Isso não resolveria. O sonho é seu, mas me parece que existe uma mente diabólica nisso tudo.

    O que dizer dessa pintura que Tim Burton fez olhando pra obra de arte de Carrow?
    Atores bons em atuações excêntricas até demais pro meu gosto. Alice sonhou isso mesmo? Não, é claro que não!
    Vi um roteiro um tanto alternativo…cenas que me causavam arrepios, mas que no fundo não era tão dignas de personagens tão bons como os que Carrow “sonhou”.
    Senti, o que sempre sinto em filmes onde atores pop atuam, raiva dentro da sessão. Jovens loucas e sem pudor a gritar dentro do cinema por um ótimo ator, mas que no fundo é vangloriado por um senso comum que nem sabe apreciar seu verdadeiro valor.
    Dose quase certa em efeitos. Personagens lindos… computação gráfica perfeita. Apesar de que penso que eles economizaram muito no quesito efeitos.
    Realmente Burton tem o dom de deixar certas coisas implícitas, o que me atiça muito, e ao amigo blogeiro também.
    Sinceramente não vi genialidade nesse filme. Achei um tanto…um tanto não! Demasiado superestimado por todos. E tenho certeza que tem muita gente por aí achando que esse é o melhor filme de todos os tempos ou algo do tipo.

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  5. bom…. o filme foi espetacular…..
    Tim Burton conseguiu, como sempre…..fazer um produção com varios efeitos…que infelizmente ….as fotos divigadas em varios sites nos fizeram esperar mais de sua produção. O roteiro também deixou a desejar, não estou condenando o filme.. mais apenas falando que a mídia nos fez esperar muita coisa….¬¬
    ps: ouvi comentários de pessoas que acharam o filme …como posso dizer….”direto”….falaram que por exemplo….na parte em que alice chega na sala….”depois de cair no buraco da árvore”….que ela ia diretamente a mesa e pegava a chave da porta, e que ela sabia de uma forma motora o que fazer com a poção e o bolo…..
    O QUE TENHO A DIZER: LEIAM OS LIVROS…..

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  6. Axei seriamente que o 3D deixou a desejar, mas a obra não se prejudica por isso…. Mas parece que ninguem aqui notou os efeitos forçados da produçao em relaçao a nova tecnologia!
    Enfim, nota 8!

    Abraços

    Gustavo Randazzo

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  7. Nao entendo muito da teoria do cinema, mas percebi que o filme foi bem produzido (creio eu, rs).
    Eu gostei das imagens, a forma como a história se desenvolve, enfim, tudo.
    Nao tem como comparálo com o livro por ainda nao o li.

    No geral me APAIXONEI pelo filme e pelos personagens.

    Só pra nao passar batido: “Cortem-lhe a cabeça!”, rs

    xD

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  8. Minha professora pediu este filme como trabalho…um filme q particulamente não gosto do genero.
    Mais como o trabalho é de filosofia e sociologia, ela quer que tiramos a ideia de ideologia, que assistimos o filme com o senso critico e que desvendemos cada personagem..

    Depois de assistir e discutir sobre, descobrimos apenas que a rainha branca é má…daí todas as duvidas surgem…está muito complicado…

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  9. o filme e muito ruim
    sem graça sem sal sem nada
    nao gostei esse que fiseram o filme tinha que criar vergonha na cara pra lançar uma coisa dessa

    o filme e muito criançinha

    vc leiore nao leia essa historia oroza

    ta eu te aconcelhoa nao nunca ler nem assistir essa rridicularidade

    resumindo e muito ruim

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