Marie & Bruce (Idem, 2004)

Filmes estranhos são uma faca de dois gumes quando se quer faturar com eles. Alguns rendem lucro por serem “estranhos” bons, e outros passam despercebidos por serem chatos. O que é fato nisso tudo é que vai ter sempre alguém (uma minoria) querendo assistir para ver se entende alguma coisa. Alguns filmes Cult têm essa isca para prender os cinéfilos, pois são apenas estes que vão atrás de filmes esquisitos. Este filme americano se encaixa nesse tópico no lado mais negativo, o chato. Porém não chega a ser um filme ruim. Como? Simples, Marie & Bruce como o nome sugere narra um dia da história desse casal, que não por acaso é o dia em que Marie (Julianne Moore) decide abandonar Bruce (Matthew Broderick).

Essa vida conjugal já foi retratada em diversos filmes e ninguém precisa ser expert para entender, pois a maioria já conviveu ou forma um casal. O estranho do filme fica por conta do roteiro e da forma como tudo é contado. Há certa teatralidade, não por acaso também, pois o filme é inspirado na peça de teatro homônima de Wallace Shawn. No cinema a direção e adaptação do roteiro ficaram por conta de Tom Cairns, que é totalmente inexperiente sendo este seu primeiro trabalho para a telona. Antes disso só havia dirigido uma série de TV, um telefilme e um curta. Há momentos em que os elementos teatrais aparecem nitidamente, formando dois monólogos intercalados. Marie simplesmente olha para a câmera e diz tudo que está sentido para nós. Em seguida, numa cena posterior, Bruce faz o mesmo e somos obrigados a ouvir os desabafos deles de forma direta.

O enredo é simples: Marie odeia Bruce, simplesmente não o suporta, não há explicação do porque ela se casou, levando-nos a crer que as promessas pré-conjugais foram por água abaixo, mas Bruce não demonstra ser um marido sem escrúpulos. Ela simplesmente se irrita com ele, como se tivesse numa TPM aguda, e uma de suas demonstrações é logo na primeira cena quando ela joga a máquina de escrever dele pela janela, alegando ser barulhenta demais. Ele pelo contrário tenta contradizer afirmando ainda existir amor, e insiste em chamá-la de querida. Chega-se a supor que o problema é apenas falta de sexo, mas não é bem isso. Vemos o dia-a-dia deles, uma rotina aparentemente fútil, cheia de amores pessoais e interesses próprios que insiste em se repetir e que incomoda apenas um deles.

O clímax do filme, se é que se pode chamar assim, é na festa de um amigo de Bruce, onde o casal, é rodeado de diálogos sarcásticos dos outros personagens (figurantes) e é também onde eles percebem sua insignificância. Seus problemas são mínimos diante do que os outros passam, e talvez o que falte entre os dois seja atenção mútua. Julianne Moore segura as pontas (curtas) do filme com sua, sempre boa, atuação. Apesar do filme está incluído no gênero de drama/comédia Matthew Broderick não se sai muito bem nessa, apesar de este ser seu espaço, como em Curtindo a Vida Adoidado.

Uma palavra boa para definir este filme é: surreal. Quem conhece vai notar uma leve semelhança à forma de fazer filme de David Lynch, essa de usar o comum como algo estranho e inexplicável tão bem desenvolvida por Lynch em seus trabalhos é aqui feita sem sucesso. O filme nem chegou a ir aos cinemas brasileiros, saindo direto em DVD, que também não gerou muitas vendas. Até em redes sociais de filmes como o Filmow, Marie & Bruce não é popular, sendo visto por poucos usuários. Não chego a recomendar o filme, que apesar de ser curto, parece ter horas de duração, mas digo que quem tiver saco e tempo de sobra que assista e arrisque uma interpretação.

5 comentários

  1. Existem, concordando com você, diversas formas de um filme não atingir o sucesso: Um enredo mal elaborado, uma atuação intragável (Hilary Duff?), um misto confuso e perdido entre dois gêneros que dificilmente se dão bem juntos como a comedia e o drama e os mais diversos fatores… Mas é inegável que mesmo sendo uma obra voltada para a arte sem necessariamente visar fins financeiros, os filmes devem ao menos apresentar um lado racional e lógico…

    Mais uma vez, Ademar, estou entusiasmado pela maneira com que você descreve esse tipo de filme, uma vez que tenho em mente as mesmas ideias e pensamentos.

    Na verdade, ainda não assisti “Marie e Bruce”, mas depois de uma critica tão clara e cheia de uma opiniao tão evolutiva tenho certeza de que darei prioridade a melhores obras, sendo as mesmas com favorecimento maior aqui no CoolTural…

    Afinal, que melhor maneira há de se acertar no entretenimento do que seguindo a risca uma critica em que você próprio se identifica?

    Abraços e Congratulações

    Gustavo Randazzo

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  2. Realmente o filme é surreal, porém a capa é legal…
    quando eu assisti , eu pensava, meu Deus naum acaba mais?????????/
    Depois q terminou nunca mais peguei no filme, e acabei dando(eu acho)…

    Só tem uma parte legal q ela deita num campo colorido^^
    O filme é simplismente chato.
    Ademar como sempre escrevendo perfeitamente..
    Parabéns

    Abrçs

    Aderval

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    • A angústia que dá vendo esse filme é inegável. Simplesmente porque aparentemente não acontece nada demais.

      Aquela parte do campo eu fiquei confuso. Parecia que o filme ia entrar na fantasia, depois parecia que ela estava entorpecida, mas no fim o que mais ficou nítido é que ela tava sonhando.

      E Aderval foi você que me deu ele, lembra? Você ia jogar no lixo, dai eu pedi dizendo que ia ver e tentar entender e postar no blog.
      Pois aí está!

      Abração e obrigado!

      Volte sempre!

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  3. Esse foi um dos filmes mais estáticos que eu ja vi. Nota-se que a vida de um casal “em crise” nao é tao interessante quanto os “vizinhos” acham.
    Nao gostei e nao assistiria de novo. Nao me arrependo de tê-lo visto pois tudo é aproveitado, neste caso bem pouco.

    =/

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