Adeus à Inocência, de Drusilla Campbell

Adeus A Inocencia

Não importa, Django, e é complicado demais conversar sobre isso num dia quente. Pergunte novamente no inverno.
Drusilla Campbell, Adeus à Inocência, pág. 53

Adeus à Inocência trata de superação. Mas não podemos resumi-lo apenas a isso. Ele traz as histórias de dois personagens que passaram por mudanças em suas vidas e que, por consequência do destino, acabaram se encontrando. A primeira, Madora, era uma adolescente quando seu pai foi para o deserto e cometeu suicídio. Depois disso, sua mãe acabou relaxando nos cuidados e proteção, deixando a filha com o caminho livre para se envolver com drogas, álcool e prostituição. Não que eu realmente acredite que a culpa foi da mãe, mas o livro trata como sendo. Aos 17 anos, ela conhece Willis, um rapaz que, aparentemente, a salva dessa vida.

A segunda história é a de Django, um menino de apenas 12 anos que acabou de ficar órfã de pai e mãe, e seu meio irmão não aceita ficar com ele, mandando-o morar com sua tia Robin, no deserto da Califórnia. Tia esta que, há muitos anos, não tinha contato com sua irmã, mãe de Django. Já que esta, ao se casar com um astro do rock, acabou indo morar em Beverly Hills e se distanciando de toda a família. Mas como essas duas histórias iriam se encontrar, já que elas aparentemente não têm relação nenhuma? A resposta está na existência de um cão, Foo, um filhote de pit bull adotado por Madora.

Drusilla Campbell
Autora: Drusilla Campbell

O salvador de Madora, Willis, que eu considerei o personagem principal da história, é um jovem que tenta a todo custo entrar numa vaga no curso de Medicina. No entanto, alguns acontecimentos envolvendo abusos de crianças e adolescentes fizeram com que ele procrastinasse essa ideia e levasse uma vida nômade. Mesmo que, na maioria dos casos, ele saísse ileso, Madora sempre acabava acreditando que tudo não passava de mal entendidos.

Existe ainda outra personagem que tem participação importante na história, mas que não consegui simpatizar muito. Linda, uma moradora de rua, era uma (outra) adolescente viciada em drogas que Willis “salvou”. Ao perceber que ela estava grávida, ele adaptou um trailer abandonado, nos fundos de sua casa, e manteve-a aprisionada até que o bebê nascesse. Embora ele a mantivesse bem cuidada e alimentada, Linda não poderia sair em momento algum, apenas por alguns minutos, e acompanhada. Quando a criança nasceu, Willis, alegando que seria o “certo” a fazer, entregou-a para um advogado “cuidar” dela.

Não posso falar mais do que já falei, visto que o livro é cheio de acontecimentos desse tipo, o que achei bastante interativo e o que faz com que a leitura seja completada rapidamente. Os diálogos são bem divertidos e leves, embora eles possuam uma carga emocional grande. Como na citação a seguir:

‑ Deixe-me em paz. ‑ Está bem – disse ele, indo em direção a bicicleta. ‑ E não volte. ‑ Vejo você em alguns dias. pag. 108

Little Girl Gone
Capa de Little Girl Gone

A diagramação do livro é excelente e bastante confortável. Mas a arte da capa, definitivamente, não me agradou. Eu fui atrás da capa original para fazer uma comparação, e ela também me desagradou. Não é que sejam realmente feias, mas acredito que para a “intensidade” da história, se é que posso adjetivá-la assim, merecia uma capa mais compatível. Essa capa lembra muito livros de autoajuda. A tradução também deixou um pouco a desejar, já que Little Girl Gone (Garotinha desaparecida, em tradução livre) é mais compatível com o tipo de narrativa, do que Adeus à Inocência, que lembra mais histórias de crianças com má índole, como em Precisamos Falar Sobre o Kevin.

Apesar desses detalhes, o livro é muito bom. É uma leitura rápida e, embora tensa, bem divertida. Ler a sinopse do livro contribuiu muito para que eu iniciasse a leitura, uma vez que título e capa me distanciariam fácil dele. Mas para um bom leitor, capa e título nunca foram motivos suficientes para ignorar um livro. Boa leitura!

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Ficha Técnica

Adeus A InocenciaTítulo: Adeus à Inocência
Título original: Little Girl Gone
Autor(a): Drusilla Campbell
Editora: Novo Conceito
Tradução: Robson Falcheti Peixoto
Edição: 2013 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 2012
Páginas: 272
Sinopse: Madora tinha 17 anos quando Willis a “;resgatou”;. Distante da família e dos amigos, eles fugiram juntos e, por cinco anos, viveram sozinhos, em quase total isolamento, no meio do deserto da Califórnia. Até que ele sequestrou e aprisionou uma adolescente, não muito diferente do que Madora mesmo era, há alguns anos… Então, quando todas as crenças e esperanças de Madora pareciam sem sentido — e o pavor de estar vivendo ao lado de um maníaco começava a fazê-la acordar —, Django, um garoto solitário, que não tinha mais nada a perder depois da morte trágica de seus pais, entrou em sua vida para trazê-la de volta à realidade. Quem sabe, juntos, Django, Madora e seu cachorro Foo consigam vislumbrar alguma cor por trás do vasto deserto que ajudou a apagar suas vidas?

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6 comentários

  1. E que comece 2014!! Olha, acho que esse ano a pessoa que mais comentar no blog deveria ganhar um prêmio viu? Hahahaha
    Me senti chique por ter participado tão ativamente da vida literária de vocês em 2013 🙂
    Bom, amei essa resenha, como sempre. Primeiro porque sempre canso de dizer que as indicações de vocês são perfeitas.]
    Depois porque eu simplesmente amo esse tipo de livro. Adoro pensar na vida, nas consequências das escolhas, nos destinos… Lindo mesmo, vai pra wishlist!
    Beijos

    Meu Meio Devaneio

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    • É sempre bom ter você com a gente, Soraya. 😀
      Suas dicas de leitura também são incríveis.
      O livro é muito lindo, você realmente iria adorar!
      Beijos!

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  2. Oi, José.
    Tudo bem?!
    Para começo de conversa, não gostei dessa capa. Uma porção de livros da NC tem saído com capas bem parecidas e está perdendo a graça.
    Fora isso, acho que esse livro não é para mim… Pelo menos não no momento. Estou se paciência para essas histórias bonitas de superação! Estou mais para livros policiais ou livros que não façam a gente refletir tanto sobre a vida!
    hehehe
    beijos
    Camis

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    • Olá, Camis!
      A capa é realmente “clichê”… mas quando superamos ela, nos deparamos com uma história linda.
      E realmente, há momentos para todos os tipos de gênero literário. Espero que dê oportunidade a esse livro algum dia.
      Beijos!

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  3. [Comentário suprimido pelo moderador] o título que a NC deu casa bem com essa ideia e eu achei evocativo. E a capa da versão nacional também é muito forte e artística. [Comentário suprimido pelo moderador]

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    • Anita,
      O objetivo do blog não é apresentar opiniões concordando com ninguém, e sim, uma avaliação crítica com base nas preferências do leitor/autor do texto. E esta é nossa opinião, se não concorda, tudo bem. Aceitamos seus comentários. Mas por favor, tenha cuidado ao comentar em blogs, tenha bom senso ao fazer-los!
      Obrigado.

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