A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, 2013)

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Para a Morte, colher as almas dos seres humanos constitui apenas seu trabalho rotineiro, por meio do qual Ela observa, com refletida distância, a curta passagem das pessoas neste mundo, sem se envolver com nenhuma delas, ou quase nenhuma. Não mais que raramente, a Morte sente interesse por alguma história de um humano, e no rigoroso inverno alemão de 1939, quando a Ceifadora de vidas veio para abater a infância do pequeno irmão de Liesel Meminger, Ela sentiu-se atraída pela menina e seguiu seus passos durante toda a Guerra até que chegasse o dia de levar consigo a alma de Liesel.

A Menina que Roubava Livros (2013), filme dirigido por Brian Percival, é a adaptação cinematográfica do livro de mesmo nome escrito por Markus Zusak (2005), que se tornou um best-seller internacional. O livro conta a história da pequena Liesel lutando pela sobrevivência e pela esperança de uma vida feliz para sua família e seus amigos em meio ao caos da Segunda Guerra Mundial.

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Narrativas que abordam esse tema no cinema e na literatura estão longe de cessar. Apesar de o tema da Guerra Mundial e do Holocausto já ter sido demasiadamente explorado, Markus Zusak inovou sua abordagem, trazendo a história contada do ponto de vista da Morte. Um recurso bastante original e inusitado, que deu à obra uma perspectiva diferente da maioria das histórias contadas pelas vítimas da Guerra. A Morte compôs, dessa forma, uma interessante materialização do narrador onisciente, fazendo reflexões filosóficas sobre a existência das pessoas e o funcionamento de seus hábitos sociais e seu modo de viver. Essa produção fílmica, portanto, era ansiosamente aguardada pelos fãs do autor e do romance em questão.

Dadas as grandes expectativas, o diretor preocupou-se com a fiel adequação do livro às telonas, e talvez por esse motivo surgiram os problemas no resultado do longa. Apesar das ressalvas, A Menina que Roubava Livros também apresenta certas qualidades; como a convincente atuação dos protagonistas, a bela fotografia que reproduz a dureza da Alemanha Nazista, assinada por Bill Crutcher, e por fim, a emocionante trilha sonora, produzida pelo aclamado compositor John Williams, que é o maior destaque do filme, conquistando inclusive uma indicação ao Oscar 2014 de melhor trilha sonora.

O roteiro do filme não apresenta grandes modificações da história do livro. No entanto, o início do longa mostra-se um pouco lento e demora a ganhar força para se desenvolver. Já no começo do filme, a história é narrada pela Morte, personagem que é apenas sugerida, mas nunca revelada. Infelizmente, a personagem narradora, que seria uma presença bastante digna de atenção caso tivesse sido mais explorada, aparece poucas vezes no decorrer do filme.

A Morte introduz a história de Liesel, uma criança órfã que viu o irmão morrer enquanto viajava de trem com ele e sua mãe para que ambos fossem adotados por um casal. No enterro do irmão, Liesel apanha um livro caído no chão e o leva consigo. Ao chegar à casa de seus novos pais, a garota permanece abalada pela morte do irmão e pelo abandono da mãe, até que seu pai adotivo, Hans, aos poucos e com ternura vai conquistando o amor de Liesel. Até a rígida esposa de Hans, com o tempo, vai se tornando uma figura maternal para a menina. A amizade de Rudy também dá cor à vida de Liesel, além do seu amor pela leitura, cujo aprendizado foi possível graças à ajuda de Hans e de Max, um judeu fugitivo que se esconde do regime hitlerista e do massacre de judeus, encontrando refúgio sob as escadas do porão da família Hubermann.

Cena de "A Menina que Roubava Livros": Liesel lê para Max
Cena de “A Menina que Roubava Livros”: Liesel lê para Max

A novata Sophie Nélisse soube dar delicadeza aliada a uma personalidade firme à personagem Liesel, provando ser uma boa escolha para o papel. Geoffrey Rush está excelente na pele do amável Hans Hubermann, um humilde pintor e tocador de arcodeão, pai adotivo de Liesel, que realiza um protesto discreto contra o regime de Hitler em não se filiar ao partido nazista, passando quase despercebido pelas autoridades. Já Emily Watson representa com uma honestidade e consistência a robustez de Rosa Hubermann, uma alemã rígida que trabalha arduamente para manter a casa em ordem e a família bem cuidada. O sobrevivente judeu Max é representado por Ben Schnetzer, que também compõe o elenco principal do filme e empresta a Max sua sensibilidade e uma bela atuação.

O filme tinha muito potencial para emocionar ainda mais o público, entretanto, falta força dramática nos momentos de maior tensão, conduzindo o público a situações que deveriam ser muito comoventes, mas que não conseguem ser capazes de levar o espectador às lágrimas ou ao envolvimento completo com os sentimentos dos personagens. Por fim, essa foi uma produção cinematográfica que trouxe histórias e personagens cativantes, mas que não se destaca como um grande filme e deixa a desejar como adaptação do romance de Markus Zusak. Aos fãs dessa história coletada pela Morte, resta esperar para uma futura adaptação de um diretor mais seguro e que não tema ousar.

Curiosidades:

  • A composição da trilha sonora ficou a cargo do premiado John Williams, parceiro de Steven Spielberg e de George Lucas. Além desse filme, o compositor já foi responsável pela trilha sonora de Jurassic Park (1993), Tubarão (Jaws – 1975), A Lista de Schindler (1993), E.T (1982), Superman (1978), Memórias de Uma Gueixa (2005), Lincoln (2012), a saga Star Wars, Indiana Jones e os três primeiros filmes da série Harry Potter. Essa contabiliza sua 49ª indicação ao Oscar.
  • Originalmente, o lançamento do filme estava previsto para o dia 17 de janeiro de 2014 nos EUA, porém como as filmagens terminaram antes do prazo, o filme estreou no Mill Valley Film Festival, em 03 de outubro de 2013, e foi exibido no Festival de Cinema de Savannah, em 29 de outubro do mesmo ano. Por isso, a data de estreia foi antecipada para o dia 8 de novembro de 2013 nos cinemas norte-americanos. Esta mudança ocorreu para o filme ter a chance de concorrer à época das premiações do cinema 2013-14, como o Globo de Ouro, o BAFTA e o Oscar.
  • Mais duas observações que não pude inserir no texto; a primeira delas é sobre o idioma utilizado no filme, que é uma mistura de alemão com inglês. Na minha opinião pessoal e crítica, isso me incomodou um pouco e limitou um convencimento maior da história, pois alguns atores falavam em inglês com sotaque ora alemão, ora inglês. Alguns dos personagens proferiam uma fala em inglês, em seguida o outro respondia em alemão. (Como na cena em que Rudy pintou-se com lama para simular uma corrida como se ele fosse o medalhista negro Jesse Owens, e um senhor o repreende falando em alemão, já a criança replica em inglês.)
  • A segunda observação é quanto à legenda branca, que me irritou durante a primeira parte do filme, em que o cenário era composto em sua maioria pela cor branca da neve, tornando-se difícil acompanhar a tradução da fala dos personagens pelas legendas. Isso até me desanimou um pouco inicialmente a continuar assistindo ao filme, mas logo a sequência superou esse pequeno incômodo.

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Ficha Técnica

a menina que roubava livros posterTítulo: A Menina que Roubava Livros
Título Original: The Book Thief
Direção: Brian Percival
Roteiro: Michael Petroni
Gênero: Drama
País: Estados Unidos da América
Ano: 2013
Duração: 131 min.
Sinopse: Baseado no best-seller A Menina que Roubava Livros, conta a história de uma corajosa garota que transforma a vida de todos ao seu redor quando é levada para viver com sua nova família durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha. Ela aprende a ler com o incentivo de sua nova família e Max, um judeu refugiado que eles escondem no porão. Para Liesel e Max, o poder das palavras e da imaginação se transformam em escape dos tumultuosos eventos que acontecem ao seu redor. A Menina que Roubava Livros é uma história sobre sobrevivência e resistência do espírito humano.

Trailer

10 comentários

  1. Que excelente texto! Os vossos posts parecem sempre pequeninos!
    Eu gostei muito do livro e da adaptação que, salvo um aspecto ou outro, é muito bem conseguido. Falta-lhe talvez aquela profundidade e envolvência do livro, mas o resultado é positivo 😉
    Boas leituras!

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  2. Concordo om vc sobre o uso dos idiomas, mas o que mais me incomodou não foram as falas, mas o dicionário na parede do porão.
    De resto achei a adaptação incrível e emocionante.

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  3. Me desculpe a sinceridade, mas acho incrível que você não tenha se emocionado com um filme que retrata sentimentos tão intensos, Talvez lhe falte um pouco de vivência e paixão, pois do ponto de vista técnico, sua análise está redondinha.

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    • Eu amei o filme ele nos mostra que apesar de qualquer problema ou perigo sempre teremos que ser igual a menina que roubava livros, que mesmo com Max no seu leito de morte ela não desistiu dele. Adorei o filme é muito emocionante ❤

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  4. Eu adorei o filme, mas esperava mais emoção nele.
    No livro eu chorei, ri, gritei de alegria…
    Já com o filme eu não consegui sentir essa emoção toda, acho que fora isso foi um filme incrível.

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