Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

Fahrenheit 451

[…] Temos tudo de que precisamos para ser felizes, mas não somos felizes. Falta alguma coisa. Já procurei, olhei a minha volta. A única coisa que realmente falta são os livros que eu queimei nesses dez anos ou vinte anos. Então achei que os livros poderiam ajudar.
Ray Bradbury, Fahrenheit 451, pág. 72

Meu interesse em ler este livro vem desde que li Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, para um dos encontros do Clube de Leitura. Não sou muito fã de distopias – até tenho curiosidade, mas acabo perdendo o interesse ‑, mas imaginar um lugar onde livros eram proibidos mexia muito com minha vaidade. Durante os encontros seguintes do Clube, também tive a oportunidade de conhecer 1984, de George Orwell, e a curiosidade só aumentou a cada dia.

Seguido a mesma linha dos livros supracitados, Fahrenheit 451 também está sob o comando de um governo totalitário, num futuro incerto, onde qualquer livro ou tipo de leitura é terminantemente proibido, e quem o fizer irá preso e terá sua casa incendiada. Assim sendo, o “entretenimento” disponível para essa sociedade eram seus aparatos tecnológicos conhecidos como “radioconchas”, que se assemelham bastante com os fones de ouvido atuais, e os aparelhos de TV, onde informações responsáveis pela construção crítica da sociedade eram mostradas pelas “famílias”, que me lembraram das novelas.

Ray Bradbury - Fahrenheit 451
Autor Ray Bradbury

Como protagonista, Bradbury nos traz Guy Montag, que é um bombeiro satisfeito com seu trabalho, até o momento. Mas não entenda “bombeiro” como conhecemos hoje. Nesta sociedade, estes profissionais tinham como função queimar livros e tudo que diga respeito à leitura. Montag é “casado” com Mildred, uma mulher com uma forte tendência suicida, ou algo bem próximo disso. Nesta sociedade onde o isolamento é algo confortável, além da esposa, a outra pessoa mais próxima de Montag e o seu chefe, o Capitão Beatty, que tem um papel antagonista na história.

Tudo vai bem, até que Clarisse McClellan, uma adolescente vizinha, cruza o caminho de Montag e, durante uma conversa, ela lhe faz a seguinte afirmação, em tom de brincadeira: “‑ Eu não tenho medo de você!”. Uma série de questionamentos surge na cabeça do protagonista. Sua felicidade e estabilidade psicológica são postas à prova. Mas porque essa menina ou qualquer outra pessoa teria medo de Montag, se ele apenas estava cumprindo seu papel para a sociedade? E, nessas respostas (ou na ausência delas) é que toda a trama se desenrola.

Mesmo tendo sido publicado originalmente em 1953, Fahrenheit 451 se mostra bastante atual. E este é um dos motivos do seu aclamado sucesso. É quase impossível não fazer associações entre nossa realidade e a do livro. Uma das mais fortes para mim é a construção social em si, onde as pessoas fazem uma inversão de valores. No livro, vemos isso quando as personagens, em especial Mildred, preferem dar uma importância maior a “família” (personagens da TV) ao invés se se preocupar com o marido. O que pode ser visto com facilidade atualmente, onde as novelas/filmes/séries são quem estão ditando como as pessoas devem vestir, se postar, o que ouvir, o que consequentemente gera uma forma de pensar, de certa forma, homogênea.

Podemos mostrar que Ray Bradbury é um excelente escritor utilizando seu próprio texto:

“[…] Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e as deixam para as moscas. Entende agora porque os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. […] Pág. 121.

Fazendo um comparativo rápido entre os protagonistas de 1984, Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451, Montag me pareceu ser o mais vulnerável, ou o que se deixou influenciar mais rápido. Mas sugiro que leiam os três livros – que são muito bons – e tirem suas conclusões.

Curiosidades:

  • Existe uma adaptação cinematográfica homônima do romance de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut, em 1966. No elenco estavam Oskar Werner (Guy Montag), Julie Christie (Clarisse / Linda Montag), Cyril Cusack (Capitão), entre outros.
  • Fahrenheit é uma medida de temperatura – assim como a escala Celsius, utilizada no Brasil. Em Fahrenheit 451, o número indica exatamente a temperatura a partir da qual os livros começam a pegar fogo: 451ºF (o equivalente a 233ºC).

    Fahrenheit 451 (Filme)
    Cartaz do filme Fahrenheit 451

Dica:

Para você que gosta de ficção-científica e de testes, gostaria de indicar um que vi na página da Revista Super Interessante, da Editora Abril: Qual livro de ficção científica tem a ver com você? AQUI. Espero que gostem. Sugeri esse teste, porque meu resultado foi Fahrenheit 451. Como a imagem ficaria muito grande, coloquei meu resultado AQUI.

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Ficha Técnica

Fahrenheit 451Título: Fahrenheit 451
Título original: Fahrenheit 451
Autor(a): Ray Bradbury
Editora: Globo de Bolso
Edição: 2010 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 1953
Páginas: 356
Sinopse: A obra de Bradbury descreve um governo totalitário, num futuro incerto mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instaladas em suas casas ou em praças ao ar livre. O livro conta a história de Guy Montag, que no início tem prazer com sua profissão de bombeiro, cuja função nessa sociedade imune a incêndios é queimar livros e tudo que diga respeito à leitura. Quando Montag conhece Clarisse McClellan, uma menina de dezesseis anos que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo, ele percebe o quanto tem sido infeliz no seu relacionamento com a esposa, Mildred. Ele passa a se sentir incomodado com sua profissão e descontente com a autoridade e com os cidadãos. A partir daí, o protagonista tenta mudar a sociedade e encontrar sua felicidade.

Onde comprar: Cultura | SubmarinoSaraiva

12 comentários

  1. Estou absolutamente doida para ler esse livro. Fui ao sebo recentemente, mas não encontrei nem um único exemplar dele… Estou pensando em comprar em e-book.
    Quanto ao filme do Truffaut, assisti metade, preciso alugar na biblioteca novamente para vê-lo inteiro de uma vez por todas haha. Ando vendo a filmografia do Truffaut, ainda falta um para completar a saga do Antoine, além do curta (que não tem na biblioteca).

    Beijos, Livro Lab

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    • Eu comprei minha edição durante o Black Friday, no Submarino.
      O filme é maravilhoso também… Até estou me sentindo mais atraído por ficção-científica. ^^
      Não tinha assistido nada do Truffaut ainda. Mas depois de saber que você está vendo a filmografia dele, fiquei com vontade de assistir também!
      Beijos

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    • Leia-os, Soraya. Irá adorar. :3
      Que bom que gostou do texto… e obrigado pelo elogio! Você também é muito inteligente!
      Beijos!

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    • Olá, Camila.
      Eu acho que nunca me incomodei com edições de bolso. Tenho muitos deles e, em alguns casos, até prefiro. ^^
      Beijos!

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  2. Vi esse livro na biblioteca da minha escola mas não tive muito interesse, a capa era diferente. Depois vi umas pessoas comentando num grupo de leitores e comecei a me interessar, mal posso esperar voltar as aulas que vou lê-lo, 1984, admirável mundo novo e Laranja mecanica também estão na lista haha

    Belo post! Abraços,
    Ananda Maciel ∞̕

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    • Esse livro possui muitas edições mesmo.
      Grupos de leitores é algo muito produtivo, pois sempre acabamos conhecendo coisas bem interessantes.
      Ainda não li Laranja Mecânica, mas pretendo ler em breve.
      Obrigado pelo elogio e comentário.
      Abraços

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  3. Mailson, uma coisa que acho curiosa nas distopias que você citou é que tanto Admirável Mundo Novo como 1984 são livros que se propõem a apontar como será o mundo no futuro a partir dos avanços científicos e tecnológicos observados em seus tempos.

    Mas Fahrenheit 451 é um caso curioso porque Ray Bradbury se inspirou em algo que realmente aconteceu. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas recolheram e queimaram todos os livros de escritores judeus: Kafka, Freud, Benjamin, Adorno, etc. E quem fosse encontrado em posse deles estava encrencado. Acho que a crítica principal desse autor, e me arrisco a dizer porque não li, é ao totalitarismo. Embora 1984 e Admirável Mundo Novo também criticassem os regimes totalitários, eles sempre partiam da tecnologia e da ciência pra dizer que eram elas que nos levariam ao totalitarismo. Mas aí foi você quem leu o livro e pode dizer isso melhor.

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    • Essas diferenças realmente existem, Cássia.
      Você está certa quando menciona o fato de em 1984 e Admirável Mundo Novo partirem da tecnologia e da ciência pra dizer que eram elas que nos levariam ao totalitarismo. No entanto, em Fahrenheit essa tecnologia também existe, mas a diferença é que, mesmo com isso, o governo tem “medo do passado”, e das pessoas voltarem a ter ‘aquele’ tipo de pensamento. E isso também é visto em 1984, quando a história é alterada… Lembra?
      Acredito que a maior diferença é no que está mais evidente: 1984 e Admirável Mundo Novo os autores focam ‘em quem’ assusta; e em Fahrenheit, ‘no que’ assusta.
      🙂

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