Garoto Encontra Garoto, de David Levithan

Garoto Encontra Garoto, de David Levithan

Eu me pergunto se é possível começar um novo relacionamento sem magoar alguém. Eu me pergunto se é possível ter felicidade sem ser à custa de outra pessoa.
E então, eu vejo Noah vindo até mim com um bilhete dobrado em forma de garça.
E penso que sim, é possível.
Acho que posso me apaixonar por ele sem magoar ninguém.
David Levithan, Garoto Encontra Garoto, pág. 72.

Assuntos envolvendo LGBTs sempre me chamaram atenção, e isso não seria diferente na literatura. Assim, romances com personagens homoafetivos acabam ganhando alguma preferência na minha lista de leitura. Quem acompanha meus textos pode perceber que a última resenha também foi de um livro com personagens homossexuais – Aristóteles e Dante descobrem os Segredos do Universo, de Benjamin Alire Sáenz. Caso você ainda não conheça, passa lá para conferir.

David Levithan, autor deste e de outros títulos protagonizados por LGBTs, se tornou popular principalmente por descrever as relações entre homo e heterossexuais como algo bem aceito na sociedade, o que ainda é considerado utópico, salvo algumas exceções. Em Garoto Encontra Garoto (assim como em Will & Will, escrito em parceria com o John Green) existe a “Aliança Gay-Hétero” na escola dos protagonistas, onde um grupo de alunos se reuni para discutir assuntos de interesse geral [jogos, apresentações, grupos de estudos], se entendi bem. Mas a aliança não é algo importante para a história, citei apenas a título de exemplo.

David Levithan
David Levithan.

Nesta história de encontros e desencontros, somos apresentados ao casal Paul (Narrador) e Noah. Estes adolescentes estudam na mesma escola, embora o último seja aluno novo, mas só tomam conhecimento um do outro durante uma apresentação musical numa livraria [tipo de encontro romântico que eu adoraria ter vivido]. Mesmo com poucas palavras trocadas, Paul já sabe [deseja] que Noah é o amor da sua vida, mas tem medo de estar apenas idealizando. Mas, como Levithan é bem prático, eles começam a se “conhecer melhor” logo no dia seguinte. Rápido? Para quem acredita em amores a primeira vista, não.

Desenhamos a vida anterior a lápis para que faça contraste com o tecnicolor do momento. (p. 83)

Enquanto eles se conhecem, somos apresentados a outros personagens: Joni, melhor amiga de Paul e única menina do grupo; Tony, outro melhor amigo de Paul e que vive o dilema de ser de cidade pequena e de família religiosa, o que o faz esconder sua sexualidade; Kyle, ex-namorado de Paul, mas que também gosta de meninas, embora recuse o rótulo de bissexual; Infinite Darlene, uma quarterback (futebol americano) drag-queen e a rainha do baile, responsável pela maior parte das risadas do livro. Outros personagens também aparecem, mas de certa forma, não marcam tanto.

Como já é de se esperar, nem todo relacionamento é feito apenas de momentos bons. Assim, Kyle decide investir novamente no seu relacionamento já acabado com Paul, o que acaba causando algumas confusões. Paul não resiste a Kyle, o que acaba magoando e afastando Noah. E é nesse momento que a história começa a ganhar sentido, pelo menos para mim. Arrependido, Paul faz de tudo para reconquistar Noah [até peguei algumas dicas, caso precise, risos]. Para um adolescente, até que ele é bem resolvido e criativo. Apesar de ser uma situação bem complicada, tudo acontece de forma bem divertida, principalmente quando as “ideias mirabolantes” de Infinite Darlene entram em ação.

Apesar de ser seu romance de estreia, David Levithan constrói uma história criativa e emocionante, mas sem perder o bom humor dos jovens. Além disso, os personagens são super cativantes. A edição da Galera Record também é outro ponto positivo: a capa é linda e a diagramação é bem confortável.

Só consigo recomendar e esperar que essa realidade criada por Levithan passe a existir algum dia, para que as palavras de Kyle [abaixo] deixem de existir.

– Preciso mesmo encontrar uma palavra pra isso? – Interrompe Kyle. – Não posso apenas ser? (p. 102)

Curiosidades

  • O livro foi dedicado a Tony, personagem da música homônima de Patty Griffin. Na música, Tony é um jovem que se suicidou por ser homossexual. Esta dedicatória foi a forma que David Levithan encontrou de homenagear os vários “Tonys” espalhados pelo mundo, na esperança de que eles deixem de existir, mas não como a música traz (Trecho: “Ele olhou no espelho e viu / Um veadinho encarando-o de volta / Sacou uma arma e explodiu a si mesmo”). Ouça a música no player abaixo:
  • Garoto Encontra Garoto ganhou o Lambda Literary Award, no ano de 2003, como melhor livro na seção Jovem-Adulto.

Vídeo de divulgação

Outros títulos do Autor

  • Garoto Encontra Garoto (Boy Meets Boy, 2003)
  • The Realm of Possibility (2004)
  • Are We There Yet? (2005)
  • Marly’s Ghost: A Remix of Charles Dickens’ A Christmas Carol, illustrated by Brian Selznick (2005)
  • Wide Awake (2006)
  • Nick & Norah: Uma noite de amor e música (Nick & Nrah’s Infinite Playlist, 2006)
  • How They Met (2008)
  • Love Is the Higher Law (2009)
  • Will & Will (Will Grayson, Will Grayson, co-autoria de John Green, 2010)
  • The Lover’s Dictionary (2011)
  • Every You, Every Me (2011)
  • Todo Dia (Every Day, 2012)
  • Invisível (Invisibility, co-autoria de Andrea Cremer, 2013)
  • Two Boys Kissing (2013)

Postagens relacionadas

Ficha Técnica

Garoto Encontra Garoto, de David LevithanTítulo: Garoto Encontra Garoto
Título Original: Boy Meets Boy
Autor(a): David Levithan
Editora: Galera Record
Tradução: Regiane Winarski
Edição: 2014 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 2003
Páginas: 240
Skoob: Adicione
Sinopse: Nesta mais que uma comédia romântica, Paul estuda em uma escola nada convencional. Líderes de torcida andam de moto, a rainha do baile é uma quarterback drag-queen, e a aliança entre gays e héteros ajudou os garotos héteros a aprenderem a dançar. Paul conhece Noah, o cara dos seus sonhos, mas estraga tudo de forma espetacular. E agora precisa vencer alguns desafios antes de reconquistá-lo: ajudar seu melhor amigo a lidar com os pais ultrarreligiosos que desaprovam sua orientação sexual, lidar com o fato de a sua melhor amiga estar namorando o maior babaca da escola… E, enfim, acreditar no amor o bastante para recuperar Noah!

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11 comentários

  1. É interessante como o autor desenvolve a história de modo a situar questões relacionadas a vida real. Concordo com a fala de que livros com esse teor e discussão também me motivam e podem ser considerados como um avanço diante de nossa conjuntura conservadora e fundamentalista. Parabenizo ao blog e ao blogueiro (José Mailson) pela resenha, foi muito bom.

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    • Olá, Aglailton
      Como você percebeu, adoro esse tipo de leitura.
      Ainda tenho muito a ler, mas vou conseguir. rs
      Obrigado pelos parabéns e comentário.

      Beijos!

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  2. Olá, José!
    Adorei a resenha (como sempre) e deu para ter uma boa noção de como é o livro. No entanto confesso que esses livros do Levithan me cansam um pouco! Nenhum problema quanto ao tema… É só a narrativa dele que me irrita!! Sei lá… Rs!
    beijos
    Camis – Leitora Compulsiva

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    • Olá, Camis!
      Eu gosto da narrativa do Levithan, principalmente por sair dos padrões. Deixa a leitura mais leve…
      Mas é bem pessoal essa de gostar mesmo.

      Beijos

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  3. Olá José.
    Muito boa sua resenha sobre o livro, com pouquíssimas falhas gramaticais, ótima descrição do tema e clareza de conteúdo. Gostei bastante das opiniões pessoais expressas no texto, como “tipo de encontro romântico que eu adoraria ter vivido” ou “até peguei algumas dicas, caso precise, risos”, pois nos transmite mais familiaridade com o autor, ou uma certa aproximação com os leitores desse ótimo blog, quase como se o conhecêssemos.
    Alguns beijos pra vc.

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    • Olá, Haysha

      Obrigado. Que bom que gostou do texto e que sente como se nos conhecêssemos. ^^
      Na verdade adoro livros que me fazem querer mudar e/ou que me dão dicas. rs

      Beijos!

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  4. Oi José!

    Ótima resenha, me deu mais vontade ainda de ler o livro!!

    Esse está na minha lista de espera faz algum tempo, descobri David Levithan depois de ler Will &Will que ele escreve em conjunto com o tão talentoso quanto, John Green.

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    • Olá, Naara.
      Obrigado, espero mesmo que leia.
      Descobri o Levithan da mesma forma, rs. E na verdade gosto mais dele do que do John Green.

      Beijos!

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  5. Eu amei sua resenha, me fez realmente voltar atrás e relembrar os fatos que eu tinha lido. Adorei!
    A propósito, tenho uma história no Wattpad com essa temática também… acho a abordagem desse tema super pertinente! ^.^

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