| Resenha | Ovelha – Memórias de um Pastor Gay, de Gustavo Magnani

Captura de tela do booktrailer do livro (link no final do texto)
Captura de tela do booktrailer do livro (link no final do texto)

Drogados, assassinos, bêbados, ladrões, mentirosos, adúlteros, caluniadores, falsos, todos sempre foram aceitos na igreja.
Gays, não.
Gustavo Magnani, Ovelha – Memórias de um Pastor Gay, pág. 23.

Intrigante. Esta foi minha primeira impressão ao me deparar com Ovelha – Memórias de um Pastor Gay, de Gustavo Magnani. A leitura deste livro apenas confirmou o que senti inicialmente, ao passo que uma série de outros sentimentos conflitantes entre o amor e o ódio foram se somando a cada relato. Gustavo Magnani (20 anos) é o paranaense idealizador e administrador do site, do canal e da página Literatortura. Quem acompanha a página já sabe que a relação dele com as palavras é incrível, mas nada se compara à qualidade do trabalho que ele realizou no seu primeiro romance.

Gustavo Magnani
Gustavo Magnani

Como o próprio subtitulo já sugere, o livro nada mais é que um fluxo de memórias sobre a vida de um pastor homossexual. Narrado em primeira pessoa, essas memórias apresentam uma mescla entre o presente e o passado desse pastor que passou a vida inteira se escondendo atrás da religião, mas que apesar de ter “consciência do próprio pecado”, viveu todas as experiências possíveis. Mas, como o próprio narrador-personagem prefere explicar, já nos primeiros capítulos:

Este diário é como uma autobiografia ou carta de suicídio prolongado de quem morre aos poucos, sem ter vivido direito, inspirado por coisas que li e que vivi, de capítulos sem ordem lógica, gosto duvidoso e linguagem questionável. (p.16)

Quote de
Quote de “Ovelha – Memórias de um Pastor Gay”

Como a citação pode sugerir, este pastor anônimo se encontra acamado num hospital católico tentando aumentar sua sobrevida após ser acometido pela AIDS. Acreditando, ou aceitando, no seu fim, este sujeito decide que chegou a hora de mostrar sua verdadeira face, até porque agora não fará tanta diferença, pois acredita não estar vivo quando sua máscara cair. E é com essa motivação que ele — pastor, esposo, pai e filho predileto — decide contar sua história, desde quando se entendeu gay, passando por suas batalhas internas, conflitos familiares por motivos religiosos, entre outros pontos tão chocantes quanto uma memória desprendida de amarras pode ser.

Apesar de ser um livro de memórias, Gustavo realizou um excelente trabalho na construção dos personagens secundários, em especial daqueles que tiveram influência direta na construção da personalidade do pastor ao longo dos anos. São eles: Mãe, cujo nome não é mencionado; O Bêbado, que faz referência ao pai do protagonista (pouco, mas significativamente mencionado); Bianca, ex-prostituta e atual esposa do protagonista; Lucas, irmão e melhor amigo do pastor, além de ser o único que sabe de sua condição; e o mais mencionado e importante, Davi, o que se aproxima do “amor verdadeiro” do personagem principal. De todas essas relações, as que mais me chocaram e encantaram (na mesma medida) foram as relações entre mãe-filho e entre irmãos, pois com elas o autor mostra que até o amor, quando em excesso, pode ser prejudicial.

São reflexões como essas que fazem desse livro ímpar. À cada nova memória, o autor vai apresentando novas camadas da vida do personagem e sociedade em que ele está inserido, possibilitando uma quantidade infinita de reflexões sobre as temáticas, que podem ou não ser coletivas. Tanto é que, mesmo com dois dos assuntos mais polêmicos da atualidade  — religião e sexualidade —, o livro ainda possui uma leveza, chegando ao divertimento em boa parte da leitura. Só para não deixar de comentar [selecione o espaço em branco para exibir a frase, pode conter spoiler]: O que foram aqueles capítulos: Capítulo do prazer; Os gays querem dominar o mundo; Chuca; Gozei; e O sermão que nunca tive coragem de dar. Divertidamente emocionante.

Captura de tela do booktrailer do livro (link no final do texto)
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Espero ter deixado claro que tanto a ideia da história quanto sua execução pelo Gustavo fazem desse livro uma obra prima. Mas outros fatores também influenciaram positivamente, sendo o projeto gráfico o que mais me chamou atenção. A Geração Editorial conseguiu acertar em todas as escolhas: capa, fonte, espaçamento, entre tantos outros detalhes.

No mais, só me resta deixar a indicação, com um adendo: Leiam de mente aberta e estejam preparados para amá-lo e/ou odiá-lo de forma única. Eu amei e espero que essas memórias mexam com vocês de alguma forma. Só não esqueçam de comentar aqui em baixo o que acharam!

Nota: 💚💚💚💚💚

BookTrailer

Ficha Técnica

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Título: Ovelha
Subtítulo: Memórias de um Pastor Gay
Autor(a): Gustavo Magnani
Editora: Geração Editorial
Edição: 2015 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 2015
Páginas: 232
Skoob: Adicione
Leia um trecho: AQUI
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