| Resenha | Sonhos Partidos, de M. O. Walsh

Sonhos Partidos, de M. O. Walsh_2

Eu me apaixonei por Lindy Simpson no dia 28 de janeiro de 1986.
M. O. Walsh, Sonhos Partidos, Cap. 07 .

Thrillers psicológicos sempre ganham uma atenção maior na minha lista de leituras, além de se tornarem favoritos com maior facilidade. Mas, apesar de já esperar bastante de Sonhos Partidos, Walsh conseguiu me surpreender em todos os aspectos. Inicialmente esperei algo semelhante a A Caldeira do Diabo, de Grace Metalious, por ter uma cidade como protagonista – no caso desta, Baton Rouge, na Louisiana. Mas nada se compara ao que foi pensado por Walsh.

Diferente do livro da Grace Metalious, em Sonhos Partidos o escritor não perde tempo apresentando localidades e personagens. Isto é, já começamos sabendo que Lindy, uma adolescente de 15 anos, foi brutalmente violentada sexualmente e que o narrador da história, que deveria apresentá-la de forma imparcial, é um dos principais suspeitos. Isto por si só já é suficiente para prender a atenção do leitor, mas as coisas se intensificam a cada nova informação.

Escritor "M. O. Walsh"
Escritor “M. O. Walsh”

Como um bom thriller, o autor vai construindo os fatos de uma forma onde toda nova informação se torna crucial para o enredo, me impossibilitando de mencioná-los. No entanto, ainda me atrevo a dizer que além do narrador, alguns outros jovens suspeitos do crime também possuem ligação direta com Lindy, o que só aumenta a tensão e confunde o leitor a cada nova descoberta. Junto à construção das personagens, sob a ótica do narrador, ainda podemos perceber que Baton Rouge – aparentemente pacata – começa a se moldar e se apresentar como uma “nova cidade”. E foi nisso que o autor me ganhou por completo, uma vez que o desvendar do crime necessita diretamente do (re)conhecimento de quem são Baton Rouge e seus moradores.

Capa original do livro "My Sunshine Away", by M. O. Walsh
Capa original do livro “My Sunshine Away”, by M. O. Walsh

É neste ponto que preciso enfatizar a qualidade da escrita do Walsh: na construção das personagens. Todos eles são muito bem desenvolvidos, com personalidades bem delineadas e fortes, em especial o narrador. Este é de longe o melhor dos personagens. Como mencionei anteriormente, ele afirma ser um dos suspeitos do crime, o que em tese diminuiria a credibilidade dele, mas a forma crua e sincera com que ele narra os fatos, torna-o apaixonante. O fato de gostar de um possível criminoso, me fez lembrar os meus sentimentos durante a leitura de No Escuro, de Elizabeth Haynes. Tanto Haynes como Walsh faz com que o leitor tenha sentimentos conflitantes em relação a todos os personagens.

Em relação à edição, apesar da fonte extremamente pequena (que sempre comento), a Editora Intrínseca caprichou nos demais detalhes. A capa e o projeto gráfico estão impecáveis, estando a primeira mais bonita e minimalista do que a original, norte-americana. Assim, se você gosta de um bom thriller, aqui está uma excelente dica. O autor nos envolve numa teia de descobertas e intrigas muito bem desenvolvidas, nos permitindo conhecer o mais podre e melancólico de cada personagem. E isto, para quem deseja fazer da leitura algo mais que distração e diversão, possibilitam uma série de reflexões e inferências a cerda da sociedade e suas construções. Super recomendado!!

Nota: 💚💚💚💚💛

Ficha Técnica

Sonhos Partidos, de M. O. Walsh
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Título: Sonhos Partidos
Título Original: My Sunshine Away
Autor(a): M. O. Walsh
Tradução: Alexandre Martins
Editora: Intrínseca
Edição: 2015 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 2015
Páginas: 256
Skoob: Adicione
Leia um trecho: AQUI
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4 comentários

  1. Um livro que também me deixou com essa sensação que mencionou – sentimentos conflitantes em relação a todos os personagens, é o A Garota no Trem, de Paula Hawkins. Você simpatiza e ao mesmo tempo se irrita com todos os personagens.

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