Vinícius (2005)

Vinicius

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Vinícius de Moraes.

Vinícius de Moraes foi um dramaturgo, jornalista, diplomata, compositor popular e um dos maiores poetas brasileiros. Sua importância para a cultura brasileira se deu especialmente pela sua poesia de caráter lírico, percorrida pelo teatro, cinema e música. Nessa última, consagrou-se como um grande compositor, que produziu músicas que são lembradas e reinterpretadas até hoje, como Chega de saudade, Eu sei que vou te amar, Pela luz dos olhos teus e Garota de Ipanema, que lhe rendeu sucesso internacional.

Explorando esse lado mais musical do Vinícius, Miguel Faria Jr. resolveu fazer um documentário mostrando a vida e obra do poeta, a família e os amigos, além de seus vários amores. O filme intitulado Vinícius (2005), trata-se de uma homenagem em forma de pocket show, que é tomado como ponto de partida para a reconstrução da trajetória do “poetinha” (alcunha dada pelo músico Tom Jobim).

Ao nos apresentar os pais de Vinícius de Moraes, já podemos notar como seu lado de artista teve influências desde a infância, pois seu pai (Clodoaldo Moraes) era um poeta e violinista, e sua mãe (Lídia Cruz), uma pianista. Ambos sempre se preocuparam com a educação do filho, que estudava nas melhores escolas da época e chegou inclusive a graduar-se em Ciências Jurídicas e Sociais. Contudo, o interesse dele pela poesia sempre fora maior do que pela vida acadêmica.

Vinícius de Moraes era um boêmio e conquistador inveterado. Gostava de viajar para o exterior, de fazer festas com amigos e era um consumidor fanático de uísque, cujo papel segundo relato do músico Edu Lobo foi fundamental para a criatividade do poeta.

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Vinícius com a garota de Ipanema, Helô Pinheiro.

Comparada à série de episódios Vinícius – Poesia, música e paixão, produzida pela Radio Cultura AM em 1993, o documentário Vinícius funciona tão bem quanto o primeiro, já que de forma mais resumida (mas não superficial) apresenta tudo que está presente na série dos anos 30. Talvez o filme de Miguel Faria Jr. seja até melhor, no que diz respeito ao encanto causado pela musicalidade de Vinícius, que nos atinge através de grandes músicos da MPB, como Caetano Veloso, Maria Bethânia e Chico Buarque, e através de sambistas contemporâneos como Zeca Pagodinho e Mart’nália.

A importância de Vinícius de Moraes, já afirmada no início deste texto, é ainda mais comprovada neste filme. As inovações que o artista trouxe para o campo da música foram enormes. Chega de Saudade, interpretada por João Gilberto, é considerada um dos marcos inaugurais da Bossa Nova, movimento iniciado com Tom Jobim, João Gilberto e o próprio Vinícius de Moraes. Não bastasse isso, ele compôs também o álbum considerado o divisor de águas da MPB, chamado Os Afro-Sambas, mesclando vários elementos da sonoridade africana ao samba.

Ao lado do uísque, as mulheres eram sua outra paixão. De fato, ele era um exímio galanteador e conquistador, o que acabou lhe rendendo nove casamentos durante toda a sua vida. Grandes poemas da literatura brasileira surgiram dessa necessidade de Vinícius em homenagear sua amada, como Poema dos Olhos da Amada, cantado no documentário por Caetano Veloso.

O ponto mais positivo do documentário são as entrevistas. Miguel Faria Jr. foi muito feliz na escolha dos entrevistados, trazendo relatos de grandes amigos de Vinícius e que foram parceiros musicais dele, como Toquinho, Chico Buarque e João Gilberto. Também temos a participação de Ferreira Gullar, para comentar a obra literária do “poetinha”.

As belas interpretações musicais, as entrevistas e a poesia presentes neste filme fazem dele um excelente documentário, que funciona tanto para os desconhecedores da obra de Vinícius quanto para aqueles que são fãs do “branco mais preto do Brasil”.

Curiosidades:

  • Em uma entrevista coletiva, realizada após a exibição do documentário para a imprensa, Miguel Faria Jr. falou que as filmagens para o filme foram muito descontraídas, que ele visitava as pessoas para bater um papo, geralmente regado à bebida, e deixava a câmera gravando enquanto conversava com os entrevistados. Por isso, conseguiu que os relatos fossem espontâneos.
  • Segundo o diretor, a quantidade de material que sobrou do filme daria para fazer um especial bem interessante para a TV ou mesmo um DVD recheado de extras.
  • A ideia do documentário sobre Vinícius de Moraes, segundo o diretor, surgiu pelo fato deles terem tido amigos em comum, como Edu Lobo e Chico Buarque, e que quando se encontravam sempre evocavam a figura do poeta. Além do mais, Miguel Faria Jr. foi casado com Suzana Moraes, que inclusive é uma das produtoras do filme.

Fonte das curiosidades: Omelete

Ficha Técnica

ViniciusTítulo: Vinícius
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Diana Vasconcellos, Eucanaã Ferraz, Lauro Escorel, Marilia Carneiro, Miguel Faria Jr e Rubem Braga.
Gênero: Biografia, Documentário, Música
País: Brasil
Ano: 2005
Duração: 121 min.
Sinopse: A montagem de um pocket show em homenagem a Vinícius de Moraes por dois atores é o ponto de partida para reconstituição de sua trajetória. O documentário mostra a vida, a obra, a família, os amigos, os amores de Vinicius de Moraes, autor centenas de poesias e letras de música. A essência criativa do artista e filósofo do cotidiano e as transformações do Rio de Janeiro através de raras imagens de arquivo, entrevistas e interpretações de muitos de seus clássicos.

Trailer

8 comentários

  1. Deve ser bem interessante, apesar de documentários biográficos não serem exatamente minhas escolhas preferidas. Mas é certo que tenho curiosidade de saber mais sobre a vida de Vinícius. E olha só, comentário inútil, a Helô Pinheiro era bonita, né!

    Um beijo, Livro Lab

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    • Sim, é muito interessante Aline! Te recomendo sem medo.

      Também não curto muito documentários biográficos, só quando é de uma personalidade que sou fã. Pra falar a verdade, se esse filme não tivesse rodado na minha faculdade, dificilmente eu iria vê-lo em outra ocasião. Não porque não goste do Vinícius, mas por falta de curiosidade em ir atrás mesmo. Mas não me arrependo de ter visto, pois é um excelente documentário.

      Ah, a Helô Pinheiro é uma beldade. É que o Vinícius tinha mesmo bom gosto pra mulher, rs.

      Beijos!

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  2. O Vini (hahahaha) foi uma das cabeças mais criativas de sua geração e é incrível com sua versatilidade em nenhum momento provocou prejuízo no que se refere a qualidade dos seus trabalhos nas mais diferentes artes. Sou fã!

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    • Concordo com você Kaio,

      Era talento demais numa pessoa só. Um artista completo, e ainda foi diplomata,o que me impressiona mais ainda. Tanta gente querendo apenas “um” dom, e ele tinha tantos.

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    • Eu também gosto do Vinícius. Depois desse documentário até procurei saber um pouco mais sobre ele e sobre a obra dele. Ele tem uns poemas muito, muito bonitos.
      No mundo de hoje, acho que o Vinícius iria enlouquecer ou revoltar-se muito, onde temos de tudo, menos o tal do amor.

      Obrigado pelo comentário.
      Beijos!

      PS: Dei um sorriso enorme aqui pelo seu elogio, rsrs.

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    • Oh, você me deixou nostálgico com essa cantiga, rsrs.

      É claro que podemos retribuir!
      Obrigado pelo comentário, volte sempre 😀

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