| Resenha | O Sol é Para Todos, de Harper Lee

O Sol é Para Todos (To Kill a Mockingbird)

— Em primeiro lugar, Scout — ele disse —, se você aprender um truque simples, vai se relacionar melhor com todo o tipo de gente. Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela. […] Precisa se colocar no lugar dela e dar umas voltas.
Harper Lee, O Sol é Para Todos, pág. 43.

A experiência da leitura é algo extremamente gratificante. Não só pelos sentimentos envolvidos, mas também porque algumas leituras despretensiosas podem nos apresentar outras tantas e assim sucessivamente. E foi exatamente assim que cheguei em O Sol é Para Todos, de Harper Lee. Durante a Maratona Literária de Inverno 2015 acabei selecionando alguns ebooks de leitura mais rápida e, dentre eles estava Claros Sinais de Loucura, de Karen Harrington, do qual falarei posteriormente. Neste momento, o que importa dizer é que a protagonista, Sarah, escreve algumas cartas para Atticus, personagem de Harper Lee.

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Principais personagens de “O Sol é Para Todos”. Ilustração disponível na web.

Assim, passei a leitura inteira querendo conhecer um pouco mais sobre este personagem e sua família, que tanto inspiravam a jovem Sarah. Coincidentemente, a blogosfera inteira também estava falando de O Sol é Para Todos, uma vez que este ganhou uma nova edição (até então esgotada no mercado editorial) em decorrência do lançamento de um segundo livro da autora, Vá, Coloque Um Vigia (Go set a Watchman), que também possui os mesmos personagens, mesmo que não possa ser chamado de continuação. Esse conjunto de fatores só aumentaram ainda mais minha vontade de conhecer Maycomb, início de 1930.

A história toda é narrada sob a óptica de Jean Louise Finch, mais conhecida como Scout, uma criança órfã de mãe e que vive apenas com seu pai Atticus, seu irmão Jem e a cozinheira Calpúrnia. Com uma ingenuidade característica para a faixa etária, Scout nos apresenta seu mundo (e os grandes problemas nele existentes) em tom de brincadeira. E é desta forma que somos colocados de frente com temas sociais bem complexos, como: racismo, intolerâncias, conservadorismo, a Grande Depressão de 1929, entre outros tantos. A forma como eles foram abordados, fizeram deste um livro atemporal, pois mesmo que tenha sido publicado originalmente em 1960 e ambientado na década de 1930, estes ainda são assuntos bem evidentes na atualidade.

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Cena do filme homônimo de Robert Mulligan, 1962

Dividido em duas partes, somos apresentados inicialmente a um dos verões onde Scout e Jem conhecem Dill, o sobrinho da vizinha, e os três se interessam pela história de um de seus vizinhos, Arthur (Boo) Raddley, o qual se tornou recluso há anos. Para algumas pessoas (inclusive algumas crianças) ele não passa de uma lenda. No entanto, o trio acredita que ele ainda está vivo e que Boo precisa conhecê-los, para que tenha algum motivo para voltar para a sociedade. Durante estas investidas, acabamos por ser apresentados ao perfil social da época: quem compõe; quais seus papéis e interesses; quais medos e mitos; entre outros detalhes relacionados à crise econômica da época.

No entanto, como Scout aprendeu muito cedo, a vida é cheia de desafios e nem sempre conseguimos nos livrar deles. Este detalhe é melhor abordado na segunda parte do livro, quando Atticus é nomeado para defender um negro (Tom Robinson) acusado — injustamente — de estuprar uma garota branca. A utilização de termos como “negro/branco” é importante para compreender como a segregação racial era forte na década de 1930, nos EUA (e ainda é hoje), e as pessoas possuíam espaços e funções na sociedade baseados exclusivamente pela sua cor. Assim, quando Atticus decide assumir o caso, todas as discriminações racistas também se voltaram para ele e sua família. Como tudo parece ainda mais cruel quando observadas sob a óptica de uma criança, podemos perceber quão suja e hipócrita uma sociedade pode ser apenas para preservar uma “aparência”.

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Cena do filme homônimo de Robert Mulligan, 1962

Apesar de ainda ser uma criança, Scout consegue se mostrar bem madura (uma crescente ao longo das páginas) durante o desenrolar do julgamento. Esse amadurecimento, não só da Scout, mas também das outras crianças, só mostram quão competente Harper Lee consegue ser, na construção de seus personagens. Isto pode ser visto também na forma como Atticus conseguiu criar/educar seus filhos, sem que precisasse casar novamente – algo inaceitável na época.

Harper Lee escreve magistralmente, sabendo manter o ritmo de forma com que a narrativa não seja quebrada, tornando esta uma história linear (de certa forma). Devo confessar que levei um tempo para assimilar a forma da narrativa dos fatos, principalmente na primeira parte, onde tudo acontece mais devagar. No entanto, consegui compreender que isto foi extremamente positivo, em especial por aproximar o leitor da sociedade em questão, fazendo-o mergulhar cada vez mais fundo nessa envolvente e perturbadora história.

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Quanto à história, não posso mencionar mais nenhum detalhe, mas acredito que consegui abordar alguns dos pontos mais relevantes e que merecem destaque. Quanto a esta edição, ela está linda! Fico horas admirando esta capa. Às vezes me pergunto como que se chegou ao título nacional, mesmo sabendo que ele faz até mais sentido que o original. Mas uma coisa que sempre fico martelando: “Porque não traduzir?” Sem criar polêmicas, devo dizer que entrou para a lista dos livros favoritos e que, num futuro próximo, irei relê-lo.

Quanto à vocês, quem já leu? Gostaram? Comenta aqui em baixo o que acharam!

Curiosidades

  • O Sol é Para Todos (To Kill a Mockingbird), clássico da literatura norte-americana, foi ganhador do renomado prêmio Pulitzer;
  • O livro foi adaptado para o cinema, dois anos após sua publicação original, com título homônimo, sob direção de Robert Mulligan (Subindo Por Onde Se Desce (Up the Down Staircase); À Procura do Destino (Inside Daisy Clover));
  • O filme foi vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, em 1962.

Ficha Técnica

O Sol é para todos (To Kill a Mockingbird)
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Título: O Sol é Para Todos
Título Original: To Kill a Mockingbird
Autor(a): Harper Lee
Editora: José Olympio
Tradução: Beatriz Horta
Edição: 2015 (5ª)
Ano da obra / Copyright: 1960
Páginas: 350
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3 comentários

  1. Acabei de sentir um ET, acredita que não conhecia esse livro, nem o filme, nem nada relacionado?!
    Aff, por onde eu ando gente?!
    Gostei da resenha Ademar e Mailson, e também da nova cara do blog, que ficou tipo um site de notícias. Bem arrojado, parabéns!
    Beijokas!

    Curtido por 1 pessoa

    • Olá, Leninha!
      Não se sinta um ET, rs. Mas agora você já conhece… então pare tudo que está fazendo e comece a ler este livro maravilhoso!!

      Beijos

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