Nariz de Vidro

A vida é tão bela que chega a dar medo
(o adolescente,
Mario Quintana)

Para Mario Quintana “a poesia é uma maneira de falar sozinho. Porque a gente, quando está conversando, fala sobre coisas, sobre a vida deste, a vida daquele, acontecimentos do dia. Quem sabe vê uma mancha muito interessante no muro, num muro sépia, uma mancha verde, vê uma nuvenzinha lá no céu perdida. Então, se eu disser isto, você fala: ‘Coitado, está louco’. Então, tudo que não é matéria de fofoca é poesia. Essas coisas a gente não pode dizer. O comum das gentes raciocina por associação de idéias, e o poeta por associação de imagens”. Essas afirmações do autor são facilmente comprovadas através da leitura de Nariz de Vidro (1984).

Trata-se de uma coletânea de 57 poemas e poesias, extraídos da seção “Letras & Livros” do Correio do Povo de Porto Alegre-RS, e da obra completa do autor. No decorrer do livro cada texto mostra sua razão de ser, mesmo que complementado por outro. E, além disso, possui uma ordem cronológica e gradativa nos temas, começando por retratar a infância e adolescência indo até a velhice e morte. Há também elementos constantes como o anjo, a morte e a saudade.

Nariz de Vidro possui um grande referencial literário. Além das dedicações, como à Érico Veríssimo em “O dia abriu seu para-sol bordado”, há também uma tradução e adaptação poética de uma fábula de Florian, chamada “Os dois gatos”. Repare também em suas referencias, explicitas e implícitas, a Leon Tolstoi, Oscar Wilde, Homero e Renoir (pintor francês do século XIX e XX).

Mario Quintana é um dos maiores poetas brasileiros, começou sua carreira como colaborador de jornais, chegou a escrever contos e poesias, nessa época. Com a ajuda dos pais aprendeu francês e espanhol, e tornou-se então integrante da equipe de tradutores da Editora Globo, traduziu para o português obra de Proust, Voltaire, Virginia Woolf, entre outros. Seu primeiro livro de poesia foi lançado em 1940, A rua dos cata-ventos.

Em Nariz de Vidro entramos no mundo poético do autor, que é composto de ternura, melancolia, lirismo, nostalgia da infância e humor irônico. Este é um ótimo livro para quem quer entrar na leitura de Mario Quintana, sem restrição de idade.

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