Queridos leitores, é com imenso prazer que lhes apresento duas estreias do Cooltural. Primeiro, nossa mais nova colaboradora (e amiga), Vanessa Lemos, que ficará responsável por resenhas de filmes e esta coluna sobre personagens marcantes do cinema e da literatura, que se configura então como nossa segunda estreia. Assim o Cooltural inicia uma nova fase, agora com uma equipe. Espero que gostem tanto da nova fase, quanto dos textos da Vanessa!
Ademar Júnior
A personagem Amélie Poulain, que permitiu o reconhecimento mundial à atriz Audrey Tautou, é uma personagem ímpar na história do cinema francês, pois possui uma personalidade curiosa e instigante ao espectador. O filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (França, 2001), do diretor Jean-Pierre Jeunet, prima pela riqueza de detalhes na descrição de sua protagonista, Amélie, e dos outros personagens, ao expor seus principais gostos e excentricidades.
Amélie tem a capacidade de provocar uma forte empatia no espectador, que acompanha sua história desde seu nascimento até a vida adulta. Um detalhe interessante é que na abertura do filme passam cenas da personagem ainda criança em seu solitário mundo, todavia povoado de criatividade e diversão, o que a deixa mais íntima de quem está assistindo ao filme.
Além disso, a superação da infância traumática – por causa do isolamento social, da perda materna e da indiferença pétrea do pai com a filha -, a sensibilidade de perceber as pessoas e a sua inteligência social, são características da personagem que nos deixa ansiosos por saber como será o desfecho da história de Amélie.
Sua infância reclusa, a trágica morte da mãe, a distância afetiva do pai, inclusive um peixe com tendências suicidas – este fugiu do aquário várias vezes para tentar se matar, um dia Amélie o devolveu ao rio – a doença “cardiofictícia” diagnosticada pelo pai, tais fatores influenciaram de maneira decisiva no desenvolvimento de Amélie e moldaram sua concepção de mundo.
Após atingir a maioridade, mudou-se do subúrbio para o bairro Montmartre onde começou a trabalhar como garçonete. Certo dia, encontra no banheiro de seu apartamento uma caixinha com brinquedos e figurinhas pertencentes ao antigo morador do apartamento de 50 anos atrás. Decide procurá-lo e devolver o pertence ao seu dono, Dominique Bretodeau, em anonimato. Ao ver quão forte é a emoção do homem ao recuperar sua caixinha de tesouros infantis, Amélie ganha um novo sentido para sua existência. Desde então, Amélie se empenha na realização de pequenas atitudes para ajudar a tornar mais felizes as pessoas à sua volta. Numa destas pequenas grandes ações ela encontra um homem por quem se apaixona à primeira vista. E então se vê numa encruzilhada que definirá o rumo de sua vida. Ela deve decidir entre continuar a viver fechada no seu próprio mundo de sonhos e ilusão ou enfrentar seu medo de viver a realidade.
Por ser uma jovem tímida e introspectiva, que vive numa realidade limitada, ela supera seus traumas infantis ajudando as pessoas, de forma anônima, com pequenas ações que as tocam profundamente. Amélie quebra com sua sensibilidade a cultura do individualismo na sociedade, uma vez que ela interfere na privacidade das pessoas que ela observa secretamente, fazendo justiça a quem ela considera merecedor e punindo aqueles considerados injustos. Um feirante que humilha o empregado, por exemplo, ela invade a casa dele escondida e faz algumas armadilhas para prejudicá-lo por conta de suas atitudes autoritárias. Por outro lado, um cliente do restaurante em que Amélie trabalha é escritor, mas nunca conseguiu publicar um livro, por falta de coragem, ela então divulga um trecho de seu livro com tinta spray num muro. Até o próprio pai de Amélie, que não saía mais de casa após o óbito da esposa, é ajudado, de forma bastante engenhosa, pela filha que, munida apenas com a imaginação e um gnomo de jardim, transformam a vida monótona do viúvo.
Quando adulta, Amélie tem uma grande dificuldade de manter relacionamentos íntimos, até que ela se apaixona à primeira vista por Nino Quincampoix e apesar de não se conhecerem, eles têm a fantasia em comum. Amélie é muito observadora e sensível, pois ela consegue captar bem as necessidades e as qualidades das pessoas ao seu redor. Além disso, ela é bastante criativa, um mecanismo que desenvolvera, provavelmente, para enganar o tédio na infância.
A personagem Amélie encanta por conta da sua qualidade de encontrar prazer nas coisas mais simples, como quebrar a cobertura de sua sobremesa favorita com a colher, enfiar a mão bem fundo num saco de arroz e ajudar as pessoas, que nem ao menos conhece, com pequenos gestos e ações em segredo. Por isso, ela não tem muitas ambições e com suas atitudes torna-se uma exceção à cultura egocêntrica da sociedade atual.
OBS: Texto publicado originalmente no blog Coruja de Café, mas que não está mais disponível no mesmo.
Amei, acho que todo mundo que assiste O Fabuloso Destino logo se apaixona pela Amelie e pela Audrey, comigo foi assim.
Posso sugerir uma personagem? Puxando o saco do livro que estou lendo agora, faz uma postagem sobre a Daenerys Targaryen de Game of Thrones. (:
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Obrigada, a Amélie é uma das personagens mais adoráveis que já vi no cinema, por isso decidi escrever sobre ela =)
Amei sua sugestão! A Khaleesi Daenerys é uma de minhas personagens favoritas de Game of Thrones, pretendo escrever sobre ela no futuro, assim que avançar minhas leituras da série “As Crônicas de Gelo e Fogo”.
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Seja bem-vinda, Vanessa! Adorei o seu texto. Ainda não assisti esse filme, me despertou muita curiosidade. Precisamos de muitas Amélies! 😀
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Obrigada =)
Espero que se sinta motivado a assistir o filme agora, rsrs. É verdade, precisamos de mais pessoas como a Amélie, ela é um modelo de fada madrinha para o mundo atual.
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Todo mundo que assiste a esse filme fica encantado pela Amélie, é impressionante. Deve ser muito amor essa pessoa, rs.
Quanto à estreante aqui no Cooltural, só me resta parabenizá-la pelo texto excelente. Gostei da ideia da coluna sobre personagens de cinema. De quem foi a sacada?
Vanessa Lemos, eu estava muito ansioso pela sua estréia aqui. Espero que venham muitos outros textos seus daqui pra frente. Ficarei acompanhando o blog mais ainda.
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Obrigada Júnior, a ideia dessa coluna foi da corujinha Anne Araújo, amiga e blogueira do Coruja de Café, para o qual eu já escrevi.
Espero que você continue visitando o blog 🙂
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São observações como estas que demonstram algo que fica claro ao longo da projeção: os realizadores de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain apreciam verdadeiramente as particularidades da natureza humana e, portanto, analisam com sensibilidade os efeitos que certos acontecimentos (como a morte ou o término de um relacionamento) exercem sobre as pessoas. Além disso, o filme consegue conferir beleza aos atos mais simples, como no momento em que um personagem cata alguns grãos de açúcar que se encontram sobre a mesa.
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Isso é verdade, Martina, essa capacidade de captar as peculiaridades de cada personagem é um talento de Jean-Pierre Jeunet, que forma sua marca pessoal registrada em seus filmes. Também podemos ver a beleza dos pequenos prazeres em “MicMacs, um plano complicado” e “Delicatessen”, ambos dirigidos por Jean-Pierre Jeunet. No primeiro, há uma cena em que um grupo de pessoas que vivem à margem da sociedade observam uma roupa “dançar” sozinha, apenas pendurada num cabide em movimento. No segundo, a vida num cortiço é representada como uma dança, em que as ocupações diárias parecem fazer parte de uma coreografia.
Obrigada pela visita e espero que continue acompanhando o blog 🙂
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Vanessa, parabéns! Amélie é uma personagem adorável. Com certeza um de meus filmes preferidos justamente pela leveza e delicadeza de personagem..características que você bem descreveu aqui. Desejo sucesso pra você e que venham muitos outros personagens 😉 Abraço
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Obrigada Camilla, esse também está entre meus filmes favoritos. Espero que goste dos próximos personagens e dos próximos posts, um grande abraço! 🙂
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Vanessa minha linda vc estar de parabéns, belo post e esse filme é perfeito, como vc disse a simplicidade de Amélie é encantador, que vc continue postando muito mais coisas interessantes.
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Obrigada Glorinha, fico feliz que tenha gostado do post, e esse foi só o primeiro, não perca os próximos! rsrs
Beijos =)
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Adorei Vanessa! Já tem um bom tempo que assisti ao filme de Amélie Poulain e rever através de sua resenha me trouxe lembranças super legais do filme. Parabéns!! Beijo. 🙂
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Obrigada Andrea, =)
considero a Amélie uma inspiração para aprendermos a valorizar as eventualidades simples mas que proporcionam os momentos mais agradáveis do dia. Beijos!
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Que post nostálgico, muito bom mesmo você está de parabéns Vanessa. Se não for pedir muito faz um post sobre o “Codinome V” de v de vingança. Abraço
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Obrigada Caio =)
Ótima sugestão! Eu adoro os personagens do Hugo Weaving, e o V tem uma personalidade muito interessante, ele foi capaz de arriscar a vida por uma ideia e pelo bem dos outros, é um personagem notável. Assim que rever o filme, vou escrever sobre ele. Um abraço.
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