Os Reis do Rio, de Rafael Lima

Os Reis do Rio

“São carnes de animais, não de gente. Não posso variar meu cardápio de vez em quando?”
Rafael Lima, Os Reis do Rio, Pág. 73.

A distopia é um subgênero que tem reunido uma legião de fãs por todo o mundo. Tido primariamente como um subgênero da ficção-científica, a distopia não se restringe somente a esse, podendo está inserido em outros gêneros ou até mesmo de forma independente. Caracterizado por narrativas ambientadas em ambientes futuristas, onde na maioria das vezes a sociedade está sob um regime totalitário ou ainda subdivida em facções, que ditam suas regras. Longe dessa nova leva produzida por autores mais contemporâneos, há de se citar clássicos que marcaram o gênero, como Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley; Fahrenheit 451, de Ray Bradbury; 1984, de George Orwell; entre outros.

Antes mesmo do boom dessa nova onda literária despontar por aqui, o carioca Rafael Lima já escrevia seu romance Os Reis do Rio, num contexto bem similar. Este é o segundo livro do autor, que estreou com Aura de Asíris: A Batalha de Kayabashi, primeiro de uma série ainda sem continuação. Diferentemente do primeiro romance, mais voltado para o tecnofantasy, nesse mais recente, o autor envereda por um mundo distópico com doses de cyberpunk e biopunk.

A narrativa se passa no Rio de Janeiro no ano de 2189. A cidade maravilhosa está em ruínas, em decorrência de um inverno nuclear que destruiu o mundo como o conhecemos hoje. Uma organização chamada Light For Mankind está no controle de tudo, através de facções subordinadas por todo o mundo. No Rio há a Radius que coordena todas as ações da LFM. Contra esta, há um grupo em oposição chamado Novos Independentes, ou Libertos como são chamados os revoltosos do Rio. Numa investida dos Novos Independentes, um novo vírus é criado e infiltrado na LFM, que foca todos os seus esforços na busca pela cura.

Saindo do contexto mundial e voltando para a narrativa principal que se passa no Rio, temos Will, um garoto que sai em busca do seu irmão, Edu, sequestrado pela Radius. Acompanhado por Lia, namorada de Edu, e Ulysses, um garoto negro com dificuldade de comunicação. No trajeto outros personagens se juntam ao grupo, que passam por inúmeras reviravoltas. Aos poucos uma trama conspiratória vai se desenrolando e o conflito local passa a ganhar o âmbito mundial, culminando num desfecho que pode mudar a vida de todos.

Vi algumas críticas negativas ao livro do Rafael, no entanto o considero um autor bastante promissor. Nesse, ele une toda a precisão de uma narrativa bem construída com a informalidade dos diálogos tipicamente cariocas. Há muitos termos próprios e siglas, recursos típicos da ficção-científica e que se configura em dificuldade para alguns, mas nem isso torna Os Reis do Rio uma leitura difícil. O livro é fácil de ser devorado e difícil de largar, dada as sequências de cenas de ação, que são de tirar o fôlego. Um dos pontos mais positivos do livro é que o autor não cai no erro do enciclopedismo, tão comum entre autores nacionais que estão iniciando. Ele insere os termos de forma que o leitor se habitue a eles, sem repetidas explicações desnecessárias que até subestimam a capacidade imaginativa do leitor, como acontece geralmente.

O livro é repleto de referências, outro ponto bem positivo. O autor deixa transparecer a influência de muitos livros, filmes e, em especial, jogos. É possível identificar referência a Hannibal, A Revolução dos BichosFinal FantasyFallout e até mesmo a Philip K. Dick, ainda que esta não tenha sido proposital.

Há pontos negativos sim, entre eles o fato da narrativa ser muito corrida e por conta disso alguns personagens ficaram um pouco superficiais. Há ainda personagens muito bem construídos, mas com participação reduzida, o que acaba deixando um gostinho de quero mais que não é saciado. Ao final fica a sensação de que algumas pontas precisavam ser amarradas de forma mais firme. Mas no geral o livro é muito bom, principalmente para quem curte ou está familiarizado com o gênero.

E você também curte distopias? Já leu alguma distopia nacional? Não deixem de comentar.

Título / Título original: Os Reis do Rio
Autor(a): Rafael Lima
Editora: Draco
Edição: 2012 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 2012
Páginas: 300

Onde comprar:
Site da EditoraEstante Virtual | Saraiva | Cultura

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by Ademar Júnior
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6 comentários

  1. Olá Ademar, ótima Review, já estava com vontade de ler o livro e você apenas me confirmou isso, mas se você pudesse gostaria que explicasse um pouco mais sobre Enciclopedismo que muitos jovens autores usam. Não entendi o termo muito bem.

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    • Oi Nick,

      Recomendo que leia mesmo o livro, eu o achei muito bom. E mesmo que você não goste, não é uma perda de tempo, pois a leitura passa voando.

      Quanto ao termo “enciclopedismo” eu me referia aos autores que têm o hábito de descrever demasiadamente tudo o que criam para compor seu universo ficcional. A descrição de coisas, ambientes e personagens é algo muito comum nos gêneros fantásticos, no entanto, ela funciona como uma faca de dois gumes se não for bem trabalhada. Muitos querem repetir o que Tolkien fez, mas até ele foi demasiado enfadonho. Assim, alguns escritores nacionais, que já li, tinham isso, de descrever as coisas, e depois descrever mais uma vez a mesma coisa e alguns ainda inserem vários apêndices, mapas e glossários explicando tudo que já foi descrito dentro da própria narrativa. Para mim, isso, se não for bem trabalhado, subestima a capacidade imaginativa e interpretativa do leitor.
      Espero ter explicado minha intenção com o termo.
      Obrigado pelo comentário, e volte sempre. Dei uma olhada no seu blog e achei bem interessante.

      Abraços

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  2. Oi, Ademar,

    Sou resenha ficou muito boa. Tbm acho que o Rafel tem um futuro promissor, aguardo o próximo projeto dele. Os Reis do Rio teve uma divisória de opiniões em prol ou contra, foi interessante ver como Os Reis agradou e desagradou o mesmo tempo, mesmo assim o livro acabou levando o prêmio de destaque literário 2012 na categoria distopia.
    Outro ponto importante que vc tocou na sua resenha foi o fato do livro ter descrições dinâmicas, é uma tendência modernista, descrições pesadas deixam a narrativa lenta, param a ação e o texto perde movimento. Tive problemas com meu texto a principio, hoje estou editanto, para oferecer melhor agilidade a leitura.

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    • Oi Laisa,
      Obrigado! Quando li o primeiro livro do Rafael, eu achei que tinha um talento para escrita que precisava ser aprimorado. Nesse segundo livro, já vejo grande evolução por parte dele e é por isso que digo que ele é um autor promissor.
      Eu super concordo com você em relação às descrições “pesadas”.
      Espero ter a oportunidade de ler seu texto em breve!
      Mais uma vez obrigado!
      Abraços

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  3. Ótimo texto Ademar…
    Estou com Fahrenheit 451 e Ray Bradbury já se tornou um dos meus autores preferidos (me apaixonei após ler As Crônicas Marcianas). E confesso que sempre gostei de distopia, mesmo sem saber o que era, rsrs. Não sei se é uma distopia, mas já resenhei um livro chamado Não Verás País Nenhum, que tem um pouco desse ambiente e também se passa no Brasil – em São Paulo. Fica dica. Abraço.

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    • Oi Ediie,

      Eu ainda não li nada do Ray Bradbury, sou um herege do sci-fi, rsrsrs. Mas ele está na minha lista de autores a serem lidos esse ano, nem que seja um conto dele.
      Quanto à sua dúvida o Não Verás País Nenhum, do Ignácio de Loyola Brandão, é uma distopia sim, embora uma não tão convencional. Alguns dizem que é uma distopia ambiental ou ainda distopia de direita, naquelas em que não há bem um regime totalitário controlando tudo.
      Muito obrigado mesmo pela dica, vou dá uma lida na sua resenha sobre ele!
      Abração

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