| Resenha | Inferno, de Dan Brown

Inferno

 Composto por Dante Alighieri no início do século XIV, o Inferno redefiniu a percepção medieval da danação. Antes dele, a ideia do mundo inferior nunca havia fascinado as massas de forma tão arrebatadora. Da noite para o dia, a obra de Dante cristalizou esse conceito abstrato em uma visão nítida e aterrorizante – visceral, palpável, inesquecível. Como era de esperar, após a publicação do poema, houve um enorme aumento no número de fiéis da Igreja Católica, graças aos pecadores aterrorizados que buscavam evitar a versão atualizada do Inferno imaginada por Dante.
Dan Brown, Inferno, pág. 65-6.

Entre os autores best-sellers, Dan Brown talvez seja um dos mais influentes, se não for, pelo menos é um dos mais conhecidos. O boom da sua carreira se deu em 2003 com o lançamento do seu livro mais polêmico, O Código Da Vinci, que posteriormente foi adaptado para o cinema e estrelado por Tom Hanks. Depois desse sucesso todo, seus livros anteriores – Fortaleza Digital, Anjos e Demônios e Ponto de Impacto– vieram a tona, e hoje é praticamente impossível que alguém não tenha ouvido falar o nome do autor. Hoje com seis livros publicados, sendo quatro deles protagonizados pelo personagem Robert Langdon, o autor volta aos holofotes para a divulgação do seu mais novo livro, Inferno.

Embora o primeiro romance protagonizado por Langdon tenha sido Anjos e Demônios, foi só com O Código Da Vinci que o anterior veio à tona, sendo publicado posteriormente ao código em muitos países. Inferno, a quarta aventura do professor de arte, traz como pano de fundo a obra do poeta italiano Dante Alighieri, A Divina Comédia. Ou pelo menos uma parte dela, Inferno, que na obra original é seguida por Purgatório e Paraíso.

Dessa vez a trama se inicia com o professor Robert Lagndon acordando de um pesadelo em um hospital de Florença, na Itália. No entanto, ele não consegue se lembrar de como foi parar ali, nem dos acontecimentos dos últimos dois dias. Os médicos que cuidaram dele o alertam de que ele foi baleado e que está com um ferimento de tiro na cabeça. Ainda no hospital o professor sofre um novo atentado, mas ele consegue fugir com a ajuda da jovem médica Sienna Brooks. A partir de então começa a aventura dos dois para desvendar o mistério de toda essa confusão.

A única pista para o mistério é um objeto estranho que a médica encontrou no paletó de Langdon, uma espécie de projetor que guarda uma obra de Sandro Botticelli, O Mapa do Inferno. Aos poucos vamos descobrindo o que realmente está acontecendo e novos personagens são acrescentados à narrativa. Quando a visão de Langdon se amplia, ele se dá conta de que está investigando um caso de uma ameaça ao fim do mundo, em que estão envolvidos a Organização Mundial da Saúde, na figura da diretora Dra. Elizabeth Sinskey, e uma organização secreta chamada Consórcio, chefiada por uma figura conhecida apenas como o diretor.

O Mapa do Inferno, de Botticelli
O Mapa do Inferno, de Botticelli

A escrita de Dan Brown já é algo bem característico. O livro possui um ritmo ágil e escrita simples, excetuando-se aqui algumas falas e as várias referências que permanecem em seus idiomas de origem. Tendo lido apenas O Código Da Vinci e este mais recente, afirmo que não há grandes mudanças no estilo do autor. Isso porque na época em que escreveu o código, seu quarto livro, seu estilo e forma literária já estavam consolidados.

Dan BrownEm relação ao gênero, as obras do Dan Brown se classificam melhor como thriller conspiratório ou thriller de conspiração, como é mais conhecido, cuja característica principal é um ameaça à paz mundial em que há uma corrida contra o tempo para revertê-la. Os livros mais comuns desse subgênero são aqueles sobre possíveis atentados terroristas, que é o tema mais popular nesse meio. Robert Langdon já perpassou por um atentado em sua primeira aventura, quando ele tenta impedir que uma sociedade secreta destrua o Vaticano. Em Inferno, o autor insere elementos não só do thriller conspiratório, mas se aventura a brincar com elementos do thriller médico também.

Dan Brown não é um dos melhores escritores da atualidade, não chega nem perto disso, mas sabe entreter. Seus livros são um prato cheio para quem busca uma boa diversão, é quase impossível largar. O principal problema do autor, e talvez seja um mérito, é o fato de que muitas pessoas não conseguem discernir o que é realidade e o que é ficção em seus textos. Isso porque a linha entre a o real o fictício nos livros do Dan Brown é muito tênue. Uma prova disso é o fato dele ter se tornado um autor tão famoso por suas polêmicas, chegando a ser odiado pelo Vaticano. Nesse ponto, podemos dizer que Langdon tenha se tornado um alter ego do autor, é o que eles têm em comum.

A repulsa do Vaticano foi uma faca de dois gumes, mas que pendeu para um lado só. Nesse caso o favorecido foi o autor, já que a proibição ao invés de afastar as pessoas, fez foi atraí-las ainda mais para a obra de Dan Brown, que é o que geralmente acontece. Outro exemplo foi a trilogia Fronteiras do Universo, de Philip Pullman, que sofreu perseguição da Igreja, que por sua vez atraiu mais pessoas ávidas por conhecer. É aquela velha história de que o proibido é mais interessante, e às vezes é.

Outro ponto positivo dos livros do Dan Brown é a carga de conhecimento histórico que eles trazem. Inferno é não só uma boa diversão como também uma boa aula de história, isso é claro se o leitor souber separar a ficção da realidade, como já foi dito. Dan Brown é um poço de referências, que convive com outro poço de referências, sua esposa, Blythe Newlon, que é pintora e historiadora da arte.

Dante AlighieriMas o sucesso de Inferno é apenas proporcional ao sucesso do autor. Isso porque A Divina Comédia, uma obra-prima da literatura mundial, não é tema inédito quando se fala em inspiração para thrillers, vários autores já se aventuraram por esse caminho, com menos evidência, é claro. O francês Arnaud Delalande escreveu A Armadilha de Dante (Ed. Record), em que o detetive Pietro Viravolta investiga assassinatos violentos, que são cuidadosas recriações dos castigos de cada um dos círculos do Inferno de Dante. Em O Clube Dante (Ed. Record), de Matthew Pearl, um grupo de escritores de um clube que realmente existiu, tenta traduzir o obra de Dante, ao passo que um serial killer é capaz de tudo para recriar as piores cenas do livro. A editora Record lançou ainda uma edição de luxo de Inferno, a primeira parte da obra de Dante, e uma biografia do autor, Dante: o poeta, o pensador político e o homem, de Barbara Reynolds.

E não para por aí. O italiano Giulio Leoni escreveu uma trilogia de thrillers, na qual Dante Alighieri é não só a inspiração, mas o próprio detetive. Nos três livros, todos publicados pela editora Planeta – Os Crimes do Mosaico, Os Crimes da Luz e A Cruzada das Trevas –, o autor reconstrói a Florença do Renascimento, nos anos 1300, pouco antes de Dante escrever sua obra-prima. Dante inspirou também o poeta piauiense Rubens Costa a escrever seu primeiro romance, um thriller ambientado em Teresina e intitulado de Dante no Inferno (Ed. Garamond). Para além deste gênero, a obra dantesca inspirou até mesmo os romances eróticos, que estão em alta, O Inferno de Gabriel (Ed. Arqueiro), de Sylvain Reynard, em que o amor de Dante e Beatriz serve de paralelo para o romance apimentado entre Gabriel Emerson, um especialista em Dante, e Julia Mitchell, uma jovem doce e inocente.

E para não me estender – ainda mais – além da conta, finalizo dizendo que vale a pena conferir o novo livro do Dan Brown, ainda que seja para saber um pouco mais sobre a obra dantesca.

Curiosidades:

  • Dan Brown foi considerado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela Revista Time e seus livros já foram publicados em mais de 50 idiomas.
  • Alguns personagens do autor são homenagens a pessoas reais, Robert Langdon ganhou este nome do artista que desenhou o símbolo da capa americana de Anjos e Demônios, John Langdon. Jonas Faukman, o editor de Robert Langdon nos livros, é um anagrama para Jason Kaufman, editor de Dan Brown nos Estados Unidos.
  • Em Inferno, alguns personagens existem de fato na vida real, entre eles Marta Alvarez, administradora de arte e cultura do Palazzo Vecchio, em Florença; e Ettore Vio, curador do museu da Basílica de São Marcos.
  • Além dos livros pelos quais é conhecido, Dan Brown escreveu também, em parceria com sua esposa (sob o pseudônimo de Danielle Brown) dois livros de humor, 187 Men to Avoid: A Guide for the Romantically Frustrated Woman (187 Homens para Evitar: Um Guia para a Mulher Romanticamente Frustrada, em tradução literal) e The Bald Book (O Livro Careca, em tradução literal).
  • Dan Brown se inspirou para ser tornar um escritor de thrillers após ler o livro O Juízo Final (The Doomsday Conspiracy, 1991), de Sidney Sheldon.
  • Antes de ser escritor, Dan Brown foi compositor e cantor pop, tendo lançado dois ábuns: Dan Brown em 1993 e Angels & Demons em 1994, este último veio a inspirar seu segundo romance. Ficou curioso? No SoundCloud é possível ouvir trechos das seguintes músicas: 976 Love, If You Believe In Love, All I Believe e Here In These Fields.

Sequência de publicação/Cronologia da série:

  1. Anjos e Demônios (Angels & Demons, 2000)
  2. O Código Da Vinci (The Da Vinci Code, 2003)
  3. O Símbolo Perdido (The Lost Symbol, 2009)
  4. Inferno (Idem, 2013)

Ficha Técnica

InfernoTítulo: Inferno
Título original: Inferno
Autor(a): Dan Brown
Editora: Arqueiro
Tradução: Fabiano Morais, Fernanda Abreu
Edição: 2013 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 2013
Páginas: 448
Sinopse: Neste fascinante thriller, Dan Brown retoma a mistura magistral de história, arte, códigos e símbolos que o consagrou em “O Código Da Vinci”, “Anjos e Demônios” e “O Símbolo Perdido” e faz de Inferno sua aposta mais alta até o momento. No coração da Itália, Robert Langdon, o professor de Simbologia de Harvard, é arrastado para um mundo angustiante centrado numa das obras literárias mais duradouras e misteriosas da história: O Inferno, de Dante Alighieri. Numa corrida contra o tempo, ele luta contra um adversário assustador e enfrenta um enigma engenhoso que o leva para uma clássica paisagem de arte, passagens secretas e ciência futurística. Tendo como pano de fundo poema de Dante, e mergulha numa caçada frenética para encontrar respostas e decidir em quem confiar, antes que o mundo que conhecemos seja destruído.

Onde comprar:
Saraiva | Cultura | Submarino

11 comentários

  1. Oi querido!
    Estou muito ansiosa por esse leitura (coincidentemente, ganhei o livro essa semana – o que me lembra que esqueci de te avisar que Corpus Delicti chegou para mim semana passada!!) porque sou apaixonada pelos livros do Dan Brown.
    De fato, o estilo dele é muito característico e isso reflete em suas histórias. Meus livros favoritos dele são O Código Da Vinci e Anjos e Demônios, ao mesmo tempo em que não gostei muito de O Símbolo Perdido por ter descoberto praticamente todo o mistério da trama ainda na metade apenas por já conhecer o estilo do autor. Fortaleza Digital e Ponto de Impacto também são muito bons, mas meus queridinhos são os protagonizados por Langdon – mais um ponto que me deixa ansiosa por Inferno.
    Não bastasse minha própria experiência com os livros do autor, gosto demais da temática desse. Confesso que meu interesse pela obra de Dante aumentou após ter lido O Inferno de Gabriel e me apaixonado pela história de Dante e Beatriz, e estou ansiosa para ver como a obra dantesca foi abordada por Dan Brown.
    Concordo com você que um dos maiores triunfos dele está nessa tênue linha entre ficção e realidade, e não posso discordar do fato de ele ser um poço de cultura – esse é, talvez, o que mais me agrada em seus livros. Adoro a quantidade de informações que ele nos oferece, e as edições ilustradas dos livros são ainda mais ricas.
    Enfim, espero que a leitura me encante e não me decepcione como a última aventura de Langdon.
    Beijão!

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    • Oi Mi,
      Eu só li O Código Da Vinci e esse, Inferno. Não fiquei muito animado para ler o demais não, mas eu pretendo ler os livros dele que não são protagonizados pelo Robert Langdon (Ponto de Impacto e Fortaleza Digital) para ver se são mais ou menos legais. Todo mundo fala que O Símbolo Perdido é o mais fraco dele. Eu tenho Anjos e Demônios aqui na minha estante, então será o próximo livro dele que vou ver, embora eu já tenha visto o filme.
      Como eu disse no texto, não vi muita diferença entre os dois que eu li, o que dá a impressão de que é mais do mesmo. Mas a quantidade de informações sobre história e cultura é muito válido e gostoso de ler. Esse é o principal trunfo do Dan Brown. Eu praticamente devorei Inferno principalmente por tratar da obra de Dante.
      Obrigado pelo comentário!
      Beijos

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  2. Que post exceptional, Ademar! Adorei a referência que faz a outras obras e breve análise ao estilo do autor ao longo de todos os seus livros.
    Se já estava curiosa com ‘Inferno’, agora estou mesmo ansiosa por começar! 🙂
    Boas leituras!

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    • Que bom que gostou! Fico muito feliz que tenha curtido o post. Eu gosto de fazer essa relação nas resenhas, acho que acaba despertando a curiosidade de quem gostou para buscar outros livros que sigam a mesma linha.
      E parece que agucei ainda mais sua curiosidade para ler o livro, gosto disso também!
      Abraços!

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      • Oi Ademar, Oi Pessoal
        Sou um dos admiradores de Dan Brown, lo Codicgo da Vinci, Anjos e demonios, Fortaleza Digital e agora o Inferno. devo concluir que as tuas linhas de analise em relacao ao seu estilo sao certas, e ainda certo que se faz uma fascinate viagem no mundo da historia e da ciencia (em algum momento) durante a leitra dos livros de Brown.
        Leiam “Inferno” recomendo.
        Boa leitura,
        Firme de Mussa

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  3. Ademar, fico besta com suas resenhas e a forma como você consegue fazer algo tão bem feito. Eu li Inferno e compartilho das mesmas opiniões que você o/
    Não achei que a obra se sobressai e não traz algo novo pro autor, foi mais do mesmo. Porém, eu também me aventurei na história e busquei informações sobre a obra de Dante e gostei. Porém, o Langdon já enjoou, e esses enredos sempre são a mesma coisa. Tudo bem que autor que passeia por muitos estilos acaba de perdendo um pouco, mas bem que o Dan podia inovar, né? hehe Estou esperando isso dele faz tempo. Mais uma vez, parabéns por essa resenha perfeita 😉
    Beijos
    Lucas – Blog Descobrindo Livros

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    • Oi Lucas,
      Eu fico muito feliz que goste das minhas resenhas!
      É como já comentamos, apesar do Dan Brown usar sua fórmula padrão, tornando a narrativa algo comum aos anteriores, ele tem esse lance de colocar várias informações legais, que fazem a gente se aventurar e aprender ao mesmo tempo.
      Eu concordo com você, acho que o Dan Brown podia inovar, vamos ver se ele de dar conta disso e faz algo diferente. Vamos aguardar.
      Obrigado pelo comentário, beijos!

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    • Oi Djamb
      Que bom que gostou, vou já dar uma passada lá no seu blog para conferir sua opinião!
      Comentarei.
      Abraços

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  4. Oi adorei sua resenha!.. muito obrigado…me fez se interessar pelo livro….mas vc já leu o livro reverso escrito pelo autor Darlei… se trata de um livro arrebatador…ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de todos os tempos…..e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais mencionados na história…..acesse o link da livraria cultura e digite reverso…a capa do livro é linda ela traz o universo de fundo..abraços. http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?
    busca.livrariasaraiva.com.br/saraiva/Reverso
    http://www.buqui.com.br/ebook/reverso-604408.html

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