A Morte do Cozinheiro

Com um título curioso, este pequeno livro escrito por Allan Pitz pode até parecer sem conteúdo algum, mas devo dizer que é ai que se engana quem nunca o leu ou pensou algo assim! Já ouviram aquele ditado de que “é nos menores frascos que estão os melhores perfumes”? Então esse ditado pode muito bem ser aplicado aqui. A Morte do Cozinheiro (2010) se mostra multifacetado, com um estilo diferente que agrada logo de cara, lembrando uma conversa informal. O que parece ser apenas uma história policial e de suspense vai além e se torna também um romance poético, diga-se pela linguagem; um drama, que se instala num limiar entre o romântico e o humorístico (negro nesse caso); e por fim uma tragédia teatral, lembrando até um monólogo.

Os fatos são narrados por Luiz Aurélio, um escritor no início da carreira que opta pela literatura como fuga da violência e todo o submundo que ela abrange. Tem sua inspiração em Carmem o amor da sua vida, algo muito nítido na mente dele. Carmem é uma garota em amadurecimento e se envolve com Luiz, mas por obra do destino e um dedinho de influência da sogra dele, o romance chega ao fim e Luiz é trocado por Lucas, um reles cozinheiro (nada contra, é palavra de Luiz). O que acontece depois é algo que não precisa fazer mistério, pois tudo é revelado na sinopse, apresentação e primeiro parágrafo do livro, isso mesmo sem mistério. Luiz mata o pobre cozinheiro. Essa antecipação do final é inexperiência do autor? Eu diria que não, tudo parece ser proposital.

“É verdade, eu matei o cozinheiro. Em momento algum deste livro negarei que matei o sórdido cozinheiro com minhas próprias mãos de escrever versos. Havia motivo claro em saciar-se com a sua morte, morte de quem por carne e gozo objetou-se ao incomensurável amor que me tornava tão puro.”

Este não é um daqueles livros em que se tenta descobrir o assassino ou detalhes de um crime medonho no decorrer da trama, definitivamente não! É um livro para se fazer pensar. Um livro onde tudo está ali e temos apenas que interpretar! Até porque seu tamanho não permite muitas delongas, tudo acontece muito rápido como diz o próprio narrador, ele não quer entreter o leitor, ele só quer contar a verdade do que fez e ponto final. Essa citação não é nenhum Spoiller é apenas a apresentação do texto, que por incrível que pareça ainda se mostra imprevisível e com final inesperado.

A Morte do Cozinheiro (Above Publicações, 80 pág.) é ainda um ensaio sobre o ciúme e a tão bem conhecida “dor de cotovelo”. Influenciado talvez por sua outra habilidade (o teatro) o autor escreve assim como faz nos palcos usando a técnica da fluência, que como ele mesmo diz é como deve ser, as coisas vêm e são escritas da forma como surgem. Usa-se também de muitas referências literárias, pelo fato do narrador ser também escritor demonstrado conhecimento da área. Entre as referências podemos ver Edgar Allan Poe, Nelson Rodrigues, Mark Twain, Dalton Trevisan, Paulo Coelho e até um poema do próprio Allan Pitz.

Quem quiser escrever algo parecido é simples: basta adicionar em uma folha de papel um pouco de todas as emoções e misturá-las. Amor, alegria, tristeza, ódio e até outras desconhecidas estão presentes. O ato insano de Luiz nos põe em um impasse entre amá-lo e odiá-lo, e digo que não será nada fácil a escolha de partido.

Allan Pitz já foi ator comediante e diretor teatral, hoje é também poeta e escritor, já ganhou diversos prêmios literários, publicou textos em algumas antologias. Além deste que é seu primeiro romance, ele já publicou os livros Duas Doses e Um Bungee Jump (por uma editora de Portugal), A Fuga das Amebas Selvagens e Visões Comuns de Um Porco Esquartejado. Nota-se a peculiaridade do autor para títulos curiosos.

Para os leitores despretensiosos este é um bom livro, porque mesmo que não os agrade (acho difícil) é, contudo um livrinho pequeno e fácil de ler! Recomendo!

Allan Pitz é parceiro do Cooltural, entre em contato com o Autor:
SkoobBlog

4 comentários

  1. Me encantei pelo livro (apesar de nao ter lido ainda). Me encanta as coisas que me fazer refletir e que sejam diretas.
    Lerei em Breve com certeza!

    Abraçoss

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