Entrevista: John Verdon

John Verdon

O escritor norte-americano John Verdon publicou seu primeiro livro em 2010, Eu Sei o Que Você Está Pensando (Arqueiro, 352 páginas, R$ 29,90), sendo lançado aqui no Brasil no ano seguinte – inclusive já o resenhamos AQUI. Verdon estreou nos thrillers policiais com o pé direito, tendo uma boa recepção da crítica. Isso fez com que seu segundo livro, Feche Bem os Olhos (Arqueiro, 432 páginas, R$ 29,90), fosse lançado logo em seguida nos Estados Unidos e aqui no Brasil – também o resenhamos AQUI. Atualmente seu trabalho já foi traduzido para mais de 30 países e ele continua a escrever novos livros. Nessa entrevista exclusiva para Cooltural, Verdon nos fala sobre seu terceiro livro Let the Devil Sleep, ainda inédito por aqui, e quarto livro, ainda não lançado. Ele nos conta também, novidades do seu trabalho, além de curiosidades e detalhes sobre o futuro dos seus personagens.

Livros - John Verdon

Cooltural John, para começar, pode nos contar como se deu o início de sua carreira como escritor?
John Verdon – Na época em que eu estava no ensino médio, eu tinha a ideia de que eu talvez gostasse de ser escritor, mas eu também precisava ganhar a vida, então eu consegui um emprego na indústria publicitária – escrevendo anúncios. Quando me aposentei dessa carreira depois de 32 anos, eu me senti livre para fazer outras coisas. Eu comecei a ler muito – principalmente romances policiais, que eram o meu tipo favorito de história. Um dia, há uns cinco anos, minha esposa sugeriu que eu mesmo tentasse escrever um romance policial. Foi aí que eu comecei a trabalhar em Eu Sei o Que Você Está Pensando – e tenho escrito os romances de Dave Gurney desde então.

Cooltural Foram necessárias muitas pesquisas para a construção das histórias de David Gurney, já que você trabalhava com publicidade e o personagem é um detetive? Se sim, como elas foram feitas, no caso?
Verdon – Eu visitei uma Academia de Polícia, um laboratório forense da polícia, e eu li alguns livros sobre investigação criminal. Um de meus filhos é um Sargento da polícia, e ele tirou muitas das minhas dúvidas.

Cooltural A literatura policial americana se consolidou ao longo do tempo como uma das mais produtivas e promissoras. No entanto outros países se tornaram mundialmente conhecidos por autores de histórias de crimes, cito particularmente a Suécia como exemplo. Há também os detetives clássicos e memoráveis como Hercule Poirot, Sherlock Holmes e Jules Maigret. Em meio a tudo isso quais foram suas principais influências?
Verdon – Meu [escritor] favorito sempre foi o Arthur Conan Doyle e suas histórias do Sherlock Holmes. Também gosto bastante dos clássicos da Califórnia do Sul do Raymond Chandler e do Ross Macdonald. Dos escritores mais recentes, eu gosto especialmente de Reginald Hill.

Cooltural Gurney vive um dilema: parte dele deseja continuar aposentado, aproveitando a tranquilidade no campo junto de Madeleine, enquanto outra parte não consegue se desligar da vida de detetive. Esse dilema é o principal responsável pelos muitos problemas pessoais do personagem, o que torna tudo o mais verossímil possível. Esse dilema foi criado inicialmente, como parte e problemática da história, ou surgiu enquanto o personagem ganhava vida?
Verdon – Eu imaginei esse dilema na vida de Gurney desde o início. Eu o concebi como um homem cuja mente estava sempre trabalhando, um homem que sempre precisava estar resolvendo um enigma.

Cooltural Madeleine mostrou-se avessa ao envolvimento de Gurney com as investigações nos seus dois primeiros livros. Isso gerou um clima capaz de colocar à prova o casamento deles, já que Madeleine sente-se abandonada em algumas situações e até mesmo teme pela segurança deles. O que se pode esperar dos próximos casos de Gurney? Madeleine será menos exigente em relação a isso ou Gurney se limitará a alguns poucos casos para dar mais atenção à sua esposa?
Verdon – O conflito sobre o trabalho de Gurney muda no terceiro livro, Let the Devil Sleep [Deixe o Diabo Dormir em tradução livre] – que começa com Gurney sofrendo pelos efeitos do que o aconteceu no final do segundo livro. Ele está para baixo e tornando-se cada vez mais deprimido – o que leva Madeleine a adotar a estranha postura de encorajá-lo (com sentimentos contraditórios) a se envolver com outro caso – já que a depressão dele a está assustando, e ela vê isso como a única forma de tirá-lo daquilo tudo.

Cooltural Seu terceiro livro, Let The Devil Sleep, ainda não foi publicado no Brasil, mas em seu site você diz que já está escrevendo um quarto livro para a série, certo? Você tem a intenção de escrever um número fechado de livros sobre esse detetive ou pretende continuá-la enquanto puder dar vida a Gurney?
Verdon – Eu pretendo continuar com Gurney enquanto as questões da vida dele continuarem a me interessar. Estou terminando o quarto livro agora e fazendo anotações para um quinto.

Cooltural Em relação ao passado de Gurney, você já pensou em escrever algum livro com casos que ele tenha desvendado enquanto ainda trabalhava para o Departamento de Polícia de New York? Algum fã já lhe fez esse pedido?
Verdon – Já me sugeriram isso, mas ainda não tenho certeza se posso fazê-lo. Eu sempre tenho a tendência de olhar para o futuro, e fico satisfeito ao ver Gurney se desenvolver e mudar em pequenos detalhes. Eu não me sinto confortável com a ideia de voltar o relógio e analisar o que ele costumava ser.

Cooltural Você tem a intenção de escrever outros livros que não incluam David Gurney? Já pensou em escrever outros gêneros que não o policial?
Verdon – Até agora esse gênero me deu todo o espaço que eu preciso para dizer o que quero dizer, por isso acho que vou permanecer nele.

Cooltural Voltando ao seu terceiro romance, ainda inédito por aqui. Pode falar um pouco sobre ele para seus fãs brasileiros?
Verdon – Uma jovem jornalista pede conselho a Gurney sobre um documentário que ela está preparando para a TV. O tema é sobre os efeitos que assassinatos em série de dez anos atrás tiveram nos membros das famílias das vítimas. O assassino, que se autoidentificou como “O Bom Pastor” em um manifesto de “cólera contra os ricos”, nunca foi capturado – mas as autoridades acreditavam que tinham um perfeito entendimento sobre o que se tratavam seus crimes. Como Gurney fica mais envolvido em ajudar a jovem jornalista, ele desenvolve sérias dúvidas sobre a versão oficial do caso e começa a investigar mais a fundo. Seus esforços atraem-lhe muitos inimigos – inclusive o próprio Bom Pastor – produzindo um confronto explosivo, e todo um novo entendimento do que se tratavam os assassinatos.

Cooltural E o quarto livro, já tem título definido? O que pode ser revelado sobre ele?
Verdon – O atual título do quarto livro – ainda não finalizado – é Peter Pan Must Die [Peter Pan Tem Que Morrer em tradução livre]. Ele envolve outro caso controverso em que o entendimento de todos sobre um assassinato de alto nível – um rico promotor imobiliário leva um tiro no funeral de sua própria mãe – muda completamente.

Cooltural Em Feche Bem os Olhos você desenvolve a trama em um cenário desolador e por vezes macabro, com temas fortes e densos ao mesmo tempo, entre eles o abuso sexual, prostituição e vingança. Para você, abordagens desse tipo é uma forma de denúncia e de chamar atenção para esses problemas sociais, sobre os quais muitos ainda não querem falar de forma séria a respeito?
Verdon – Eu realmente não me vejo como um crítico social. Meu principal interesse é nos motivos e na psicologia dos indivíduos – em observar seus objetivos, seus valores, suas decepções, e então descrever como esses indivíduos acabaram sendo resultado do tipo de vida que eles levaram.

Cooltural Ao ler seus dois primeiros livros, e pela sinopse de Let the Devil Sleep, nota-se que você tem predileção por assassinatos em série. O que te atrai para este tipo de crime, que o leva a escrever sobre ele?
Verdon – Assassinato em série, na minha opinião, é a forma mais pura de homicídio – matar por matar, matar por prazer e pelo poder, pela emoção de invocar a própria morte. Eu considero isso um fenômeno particularmente assustador – um exemplo da natureza humana em sua falta absoluta de piedade. Para mim, o mal pode ser definido como uma inteligência impulsionada pelo apetite desenfreado e nenhum senso de empatia. Tenho a sensação de que esse é o último inimigo que um herói gostaria de confrontar.

Cooltural Sobre possíveis adaptações de seus livros para o cinema ou série de TV, você já recebeu alguma proposta a respeito disso? Quais atores você imagina interpretando o David Gurney e a Madaleine?
Verdon – Algumas discussões já ocorrem há algum tempo em Hollywood, mas eu não tenho permissão para mencionar quaisquer nomes até nós avançarmos um pouco mais.

Cooltural – Que recado você gostaria de dar aos seus fãs brasileiros?
Verdon – Minha mensagem é simples. MUITO OBRIGADO!

Cooltural Vamos a um rápido check-list?
– Livro favorito: O Cão dos Baskerville
– Autor favorito: Arthur Conan Doyle
– Ator ou Atriz: Derek Jacobi, Helen Mirren
– Filme: A Estrada da Vida (La Strada, 1954)
– Diretor: Federico Fellini
– Um sonho realizado: Ter a esposa que tenho.
– Um álbum musical: Qualquer álbum de Roy Orbison 

Cooltural Última pergunta: em que número eu estou pensando agora? (risos)
Verdon – (risos também) 

Cooltural Obrigado pela entrevista, John!
Verdon – Obrigado!

John Verdon II

Agradecimentos:

Agradeço especialmente à Aione Simões (do blog Minha Vida Literária) pela contribuição com as perguntas; à Vanessa Lemos (nossa colaboradora) pela tradução; ao Victor Schlude (do blog Mestre das Resenhas) e ao Daniel von Glehn (do blog Que Viagem, Dam!) pela revisão da tradução; ao José Mailson (nosso colaborador) pela revisão final; e por fim, à Isabella Farias (Editora Arqueiro) pelo apoio e parceria.

12 comentários

  1. Querido, meus parabéns!
    A entrevista ficou fantástica e estou ainda mais ansiosa para ler os próximos volumes!
    Gostei muito das respostas do Verdon e, novamente, te agradeço por me possibilitar participar da entrevista, fiquei feliz em ter minhas perguntas respondidas! Vou divulgar agora mesmo na página do blog!
    Ah, e eu dei muita risada com a sua última pergunta!
    Beijão!

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    • Oi querida,
      Muito obrigado!
      Eu adorei fazer essa entrevista, o John Verdon é muito bacana e como sou fã do trabalho dele, foi melhor ainda.
      Sua participação foi muito especial.
      Obrigado pela divulgação, sempre que a gente planejar uma entrevista, vou te consultar, hahahahaha…
      Beijão!

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  2. Oi Ademar,
    Excelente a entrevista.
    Já li os dois livros do autor publicados pela Editora Arqueiro e adorei ambos. Para mim, Verdon se tornou um daqueles autores que o fato do seu nome estar na capa do livro é o suficiente para eu querer ler. Nem preciso conferir a sinopse.
    Adorei saber que o autor aprecia a literatura policial classica, especialmente Raymond Chandler de quem sou super fã.
    Achei interessante que vários leitores já pediram que ele escrevesse livros sobre o passado de Gurney, porque isso era algo que nunca tinha me ocorrido. Acho que uma das razões pelas quais o detetive é tão interessante é o conflito que vive nesse momento de sua vida por ter abandonado a policia, mas não conseguir deixar de ser detetive. Acho que o que ele costumava ser pode ser deixado apenas para a imaginação.
    Que bom que o autor pretende permanecer no gênero. Os fãs agradecem, hehe.
    Parabéns pela entrevista.
    Um abraço
    http://www.alemdacontracapa.blogspot.com

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    • Oi Mariana,
      Primeiramente obrigado, adorei seu comentário.
      Eu já devo ter disso isso várias vezes: o Verdon se tornou um dos meus autores favoritos de thrillers, só nos dois primeiros livros.
      Eu adorei fazer a entrevista com ele, porque acabei sabendo de várias coisas legais e interessantes, como o fato do filho dele ser sargento. Acho que é legal quando se tem uma inspiração dentro de casa.
      Eu gosto muito do conflito entre ele e a esposa, traz mais verossimilhança às narrativas, né?
      Eu também fiquei grato ao saber que ele permanecerá no gênero, rsrs.
      Ah, adorei seu blog, passarei por lá para fazer uns comentários!
      Beijão!

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  3. Parabéns pela entrevista, Ademar!
    O blog é altamente recomendável para quem gosta de uma boa leitura. Sucesso e vou compartilhar a página.

    Abs

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    • Oi Bernardo,
      Obrigado mesmo! O John Verdon é um dos meus autores de romances policiais favoritos da atualidade, para mim foi um grande prazer poder entrevistá-lo para o blog.
      Volte sempre que puder.
      Abração e mais uma vez obrigado.

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    • Oi Elizabeth,
      O John Verdon é realmente um excelente autor. Adorei fazer a entrevista com ele para postar aqui no blog, pois acho que os livros dele prometem, então é sempre bom saber mais um pouco sobre os autores que a gente gosta, né?
      Fico feliz que tenha gostado.
      Beijos

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    • Oi Milena, tudo bem?
      Obrigado, ficamos felizes que tenha gostado do blog e da entrevista. O John Verdon é muito bacana mesmo.
      Você vai adorar os livros dele.
      Beijos

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  4. Gostei da entrevista e algumas partes me chamaram mais atenção, sendo essa uma delas: “assassinato em série, na minha opinião, é a forma mais pura de homicídio – matar por matar, matar por prazer e pelo poder, pela emoção de invocar a própria morte. Eu considero isso um fenômeno particularmente assustador – um exemplo da natureza humana em sua falta absoluta de piedade.” Medo! Eu já tinha visto uma análise assim em um personagem de uma série que acompanho, o Dexter. Obrigado pelo incentivo à leitura!

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    • Oi Ramiro,
      Então, o Verdon é uma pessoa muito bacana e as respostas dele foram muito interessantes, essa que você citou em particular, mais ainda. rsrs
      Obrigado pelo comentário!

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