| Resenha | Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Memórias Póstumas de Brás Cubas (Filme)
Cena do filme homônimo, protagonizado por Reginaldo Faria (Brás Cubas)

[…] Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de um homem já desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem regela, e é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado.
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, pág. 06.

Olá, pessoal! Tudo bem com vocês?
Como falei no texto sobre O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst, trarei sempre que possível por aqui minhas impressões sobre os livros discutidos no grupo de leituras compartilhadas que tenho com os amigos Matheus Alencar (autor do conto O Poste e a Lua) e o Rodrigo Costa do blog Livrai-nos! Apesar de não ser a proposta do grupo, nossas últimas escolhas todas foram compostas por clássicos e, o melhor e mais significativo de tudo, por livros densos e, por conta disso, esquecidos na estante há algum tempo. Assim, o livro da vez foi Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Este não é meu primeiro contato com o autor, dele já tive o prazer de ler alguns contos aleatórios, Dom Casmurro e O Alienista (que ainda não me decidi se é um conto ou uma novela). Mas vamos às minhas impressões sobre essas memórias.

Este romance, narrado em primeira pessoa, conta a história de Brás Cubas, um membro da alta sociedade brasileira do século XIX. Mas, diferente das memórias que conhecemos, esta foi escrita pelo próprio protagonista logo após a sua morte. Aos desatentos, é este livro que possui a dedicatória mais popular da história da literatura:

Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.

Memórias Póstumas de Brás Cubas
Cena do filme homônimo, na imagem Petrônio Gontijo (Brás Cubas) e Viétia Zangrandi (Virgilia)

Nestas memórias, Brás Cubas faz uma crítica inteligentíssima à sociedade em que vive, abordando diversos temas desde os mais banais como sonhos e desejos, até temáticas mais profundas e problemáticas, como política, amor, escravidão, entre outros tantos muito bem delineados, mesmo que não diretamente. Um dos melhores exemplos sobre isso é a forma como o narrador fala sobre si e sua família, na seguinte frase […] Desta terra e desse estrume é que nasceu essa flor. (p.23). Por aí você já percebe que, se ele não dispensa nem a própria família, imagine os demais?

Machado de Assis conseguiu, a meu ver, trazer de forma bem humorada um relato sobre as principais condições de vida e formação social da sociedade do século XIX. Formado por capítulos curtos, o autor insere entre os acontecimentos da vida do protagonista alguns momentos a priori aleatórios, mas que ao serem analisados mais atentamente percebemos quão crítico e polêmico o autor consegue ser. Fiz muitas marcações durante a leitura de momentos como este, mas o mais significativo deles diz respeito ao capítulo XXXI chamado “A Borboleta Preta”. Neste capítulo, temos o personagem refletindo sobre o porquê matar uma borboleta apenas por ela ser preta e não azul. Ao lerem, perceberão que o autor questiona claramente o sistema escravocrata presente na época, mas sem usar tais palavras.

Aos que nunca leram Machado de Assis, devo confessar que o início de suas histórias é sempre bem arrastado e confuso, tanto que já havia feito duas tentativas de ler Memórias Póstumas, mas sempre acabava desistindo. Mas fica aqui uma dica: tentem superar as primeiras 50 páginas, mesmo que arrastadas, e faça isso de uma vez, assim perceberão quão difícil é largar um livro dele que é considerado o mestre da literatura brasileira.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (Quote)Sobre os personagens, todos eles são apresentados sob a óptica de Brás Cubas, assim só aparecerão e terão relevância aqueles que, por algum motivo, foram importantes para sua vida. Dentre eles estão: Virgilia, o grande amor e caso do protagonista, apesar de casada; Marcela, uma mulher “da vida” responsável pelas primeiras experiências do narrador (e para mim, a melhor personagem); D. Plácida, responsável por acobertar Virgilia e Brás Cubas, além de ser a personagem com uma das histórias mais tristes do livro; Eugênia, uma jovem que tem uma passagem rápida na vida do narrador, mas ainda assim significativa; e Quincas Borba, um filósofo amigo de Brás Cubas, o qual Machado de Assis utiliza em outro romance que leva o nome do personagem.

No mais, todas as impressões e reflexões causadas por este livro são completamente subjetivas. Contudo, quero pedir que leiam e façam suas próprias inferências. Mesmo que não compreendam tudo, como foi meu caso, ainda assim vale muito a experiência. Sei que é Machado de Assis e não preciso dizer isso, mas fica aqui uma grande recomendação de leitura!

 Nota: 💚💚💚💚💛

Drops:

  • O livro foi adaptado para o cinema em 2001, aqui no Brasil, com roteiro e direção assinador por André Klotzel e tendo no elenco atores consagrados, como Reginaldo Faria, Petrônio Gontijo, Marcos Caruso, Stepan Nercessian, Viétia Rocha e Débora Duboc.
  • Só lembrando que todas as produções do Machado de Assis encontram-se em Domínio Público e podem ser baixadas gratuitamente no site do MEC dedicada ao autor (AQUI). Enjoy!

Ficha Técnica

Memórias Póstumas de Brás CubasTítulo: Memórias Póstumas de Brás Cubas
Autor(a): Machado de Assis
Editora: Globo
Edição: 1997 (46ª)
Ano da obra / Copyright: 1881
Páginas: 208
Skoob: Adicione
Leia a obra: AQUI
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